domingo, 13 de novembro de 2011

Do que um estrangeiro precisa

A Casa Rosada - Buenos Aires (sede do governo argentino)

Tivemos uma boa recepção desde que chegamos a Buenos Aires. Sempre que conhecemos alguém, é muito comum ouvirmos "- Olha, do que você precisar, é só ligar, que estou à disposição para o que for."

No início, era um alívio ouvir isso. Saber que tinha carta branca para chamar quando necessário. No entanto, as "dúvidas" principais foram solucionadas com uma boa Relocation (empresa contratada pela empresa do meu marido para adaptar a família expatriada). Entre outras coisas, uma Relocation te ajuda a decidir qual bairro você vai morar, te ajuda a buscar casa com uma boa imobiliária, escola de filho, indicações de médicos e dos mais variados serviços.

Quando vivíamos em Madri, a Relocation contratada pela empresa era um zero à esquerda, horrível, muito mal resolveu a parte burocrática que se refere aos papéis de permanência no país. Aqui, felizmente, nos deparamos com um bom serviço. Assim, na verdade não tenho bons motivos para ligar para ninguém pedindo ajuda. Os problemas que temos são naturais do processo e dependem de tempo para se acomodarem.

Significa dizer que esse tipo de ligação, para pedir ajuda por algo, a princípio, não haverá. No entanto, necessitamos muitíssimo socializar-nos, fazer amigos e conviver com as pessoas daqui. Outro dia, quando me perguntaram de novo, respondi que do que eu precisava mesmo era de um café, sair para tomar um café. Senti que a pessoa que me perguntou não esperava essa resposta e pareceu em pane, coitada. Ainda por cima fiquei de ligar para marcar a ocasião. A pobre da moça deve tremer de ansiedade quando vir uma ligação minha...  :)

É que a experiencia me diz que na maioria das vezes a iniciativa tem que partir do próprio estrangeiro. As pessoas em geral estão tão metidas na sua rotina que não se dão conta, ou preferem não sair da sua zona de conforto. Significa dizer que se se vai viver em outro país com a família, é necessário tentar superar qualquer timidez, ligar para as pessoas, convidá-las e vencer o medo de incomodar. Não é fácil, no entanto. Essas coisas tenho dito para mim mesma. O mais comum é estar "pisando em ovos".

Sinceramente, do que um estrangeiro precisa é o que qualquer pessoa precisa: sentir-se em casa. Estar cómodo, ter seus filhos bem adaptados no colegio, ter bons amigos e uma rotina agradável. Se alguém quer realmente ajudar, deveria começar tentando conhecer melhor esse estrangeiro e sua família, convidar para sair e estar por perto. Nessas ocasiões, é comum se descobrir afinidades e com isso se estabelecer algum tipo de convivência agradável e beneficiosa para ambos.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Ser estrangeiro - Parte 2


Acho que aos poucos ser estrangeiro passa a ser mais um estado de espírito do que uma questão de geografia. É uma sensação de deslocamento, de não pertencimento. Acabo de voltar do Brasil e nunca foi tão forte esse sentimento, o de “estar sem estar, de ser mas não ser”.  As idas ao Mundo de lá (Brasil) são sempre precedidas por ansiedade, felicidade e expectativa; a tão famosa necessidade de regressar de Saramago. No entanto, é óbvio que pelo menos por enquanto aquele também não é o meu mundo. Depois de quase 4 anos fora, tudo provoca uma estranheza. Algumas questões práticas amplificam essa sensação, como o fato de que a pequena estrutura que contamos no Recife é proporcionada pelos familiares, quero dizer, não é nossa de verdade:  carro, celular, casa... Além disso, por opção nossa, cada vez mais as idas ao Brasil se resumem a compartilhar da companhia dos familiares mais próximos, restando pouco tempo para curtir a praia, redescobrir a cidade, rever velhos amigos. A cada ida, vivemos uma angústia entre estar mais tempo com a família, rever todos que gostaríamos ou ter o tempo livre sem uma agenda abarrotada de compromissos. Estar longe é difícil, mas estar perto nestas condições também é. Apesar disso, tão logo voltamos a Buenos Aires, a saudade começa a apertar, e já começamos a programar nossa ida ao Brasil para o mais breve possível, ansiando novamente que chegue o grande dia e que possamos mais uma vez abraçar e estar perto das pessoas que amamos. É, pensando bem, nisso a estrangeirice é menor... esses arroubos afetivos são bem coisa de brasileiro.