"A comunidade dos justos é estrangeira na terra, ela viaja e vive de fé no exílio e na mortalidade" (Sérgio Buarque de Holanda).
terça-feira, 20 de maio de 2008
Meditações de um notívago
No dia 18 de março deste ano, recebi esta carta-email do meu pai. Fazia menos de um mês que havíamos viajado.
Na íntegra, segue:
"Levantei-me no meio da noite. A lua batia no mar com sua brancura, inerte, contrastando com a mobilidade das ondas. O mar, insondável, a separar povos, nações... A lua, pairando sobre tudo, numa banda do mundo, vigilante. A brisa marinha, de fora para dentro do mar, o “terral”, causava-me fadiga. Pensei como vocês estariam, do outro lado do mar, prestes a acordar, devido ao fuso horário. Eu, ainda teria muitas horas para ver a luz do sol, me despedindo da lua. As palhas dos coqueiros não davam sinal de vida ondulante: viçosas, mas imóveis. Pelas janelas, sem para-peito, começava, sem vento, um “toque-toque”, que pensei ser do ar condicionado do apartamento superior, cuja água cai sobre o meu ar condicionado e faz aquele barulho. Na verdade, era, mas também, de uma chuva que começava a dar seus sinais. Nem um apito do guarda noturno, que guarnece a área. Senti a fragilidade dos seres: àquela hora, quem poderia estar pensando em mim? Um insone, talvez, assim como eu, estaria acordado. Pensei na necessidade da amizade que muitas vezes desprezamos e meditei: um inimigo, acordado a esta hora, poderia também pensar em mim. Como não o tenho, só poderia apelar para um amigo acordado. Porém, não seria justo desejar que um amigo fosse puxado na madrugada para voltar seu pensar para mim. Pensei, mais uma vez, em vocês: acordariam daqui a pouco e não seria injusto o desejo de puxá-los para meu mundo, acordariam naturalmente. Nesse acordar, poderiam voltar o pensamento pr´as coisas distantes, atravessando a amplidão do mar e pousar ali, naquele coqueiro, em frente ao apartamento. Depois, pensamento, como veio, voltou a se concentrar em outros e coisas diversas, mas já tinha invadido o meu universo. Dei de olho no canto da parede: a bicicleta de Iago, ainda não consertada. O tempo continua a girar e os encontros e desencontros serão sempre uma constante na natureza e, na natureza humana, a duração de cada vida. Liguei a televisão, embalado neste pensamento, voltei a dormir. Vocês acordaram e eu, dormindo; com vocês, só poderei sonhar. Acordei e reli o escrito. Não achei grande coisa, mas à mingua de algo melhor, envio-o. Com um piparote no teclado do computador, me despeço. Um abraço a todos. Amanhã em Abreu e Lima é feriado. Prejuízo pr´a mim, na certa. Mas, que tem a vida de feia? Ela é sempre bela!"
A estrangeira finaliza: Que saudade!! Segue a música que ele cantava para mim, na infância. Imitei-o e canto para meu filho Iago hoje, e é uma de suas preferidas (Prece ao Vento).
http://br.youtube.com/watch?v=FTWFvILrYzU
Assinar:
Postar comentários (Atom)
6 comentários:
Cris, vc realmente tem a quem puxar .... com um escritor poeta desse!
Filho de peixinho, peixinho é!
PS: Eu também quero escrever assim bonito como vcs!
Um beijo grande,
Nea
Oi. encontrei seu blog no da Christianne. Também tenho um blog diário, pra falar de culinária para crianças.
quando puder, de uma passadinha por lá.
http://comereumbarato.com.br
abs
Thais
Cada dia me orgulho mais de fazer parte desta família linda! Eis o que existe por trás de uma "soqueira jurídica": AMOR, HUMANO, BELO, POETA. Beijos, Keila
Meu pai é o 10!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
O meu tb é o 10..............!!!!!
Não tem jeito. Toda vez que leio esse texto, choro! Toda vez que ouço essa música, choro! "Mas, que tem a vida de feia? Ela é sempre bela!" Te amo, pai! Feliz aniversário, agora, em 2014.
Postar um comentário