quarta-feira, 16 de julho de 2008

Evocação do Recife

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http://www.vagamundos.net/v3.1/img/dsc02720_recife.jpg

"Recife
Não a Veneza americana
Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais
Não o Recife dos Mascates
Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois
- Recife das revoluções libertárias
Mas o Recife sem história nem literatura
Recife sem mais nada
Recife da minha infância
A rua da União onde eu brincava de chicote-queimado
e partia as vidraças da casa de dona Aninha Viegas
Totônio Rodrigues era muito velho e botava o pincenê na ponta do nariz
Depois do jantar as famílias tomavam a calçada com cadeiras
mexericos namoros risadas
A gente brincava no meio da rua
Os meninos gritavam:
Coelho sai!Não sai!
A distância as vozes macias das meninas politonavam:
Roseira dá-me uma rosa
Craveiro dá-me um botão
(Dessas rosas muita rosa
Terá morrido em botão...)
De repente nos longos da noite um sino
Uma pessoa grande dizia:
Fogo em Santo Antônio!
Outra contrariava: São José!
Totônio Rodrigues achava sempre que era são José.
Os homens punham o chapéu saíam fumando
E eu tinha raiva de ser menino porque não podia ir ver o fogo.
Rua da União...Como eram lindos os montes das ruas da minha infância
Rua do Sol (Tenho medo que hoje se chame de dr. Fulano de Tal)
Atrás de casa ficava a Rua da Saudade......onde se ia fumar escondido
Do lado de lá era o cais da Rua da Aurora......onde se ia pescar escondido
Capiberibe- Capiberibe
Lá longe o sertãozinho de Caxangá
Banheiros de palha
Um dia eu vi uma moça nuinha no banho
Fiquei parado o coração batendo
Ela se riu
Foi o meu primeiro alumbramento
Cheia! As cheias!
Barro boi morto árvores destroços redemoinho sumiu
E nos pegões da ponte do trem de ferro os caboclos destemidos
em jangadas de bananeiras
Novenas
Cavalhadas
E eu me deitei no colo da menina e ela começoua passar a mão nos meus cabelos
Capiberibe- Capiberibe
Rua da União onde todas as tardes passava a preta das bananas
Com o xale vistoso de pano da Costa
E o vendedor de roletes de cana
O de amendoim
que se chamava midubim e não era torrado era cozido
Me lembro de todos os pregões:
Ovos frescos e baratos
Dez ovos por uma pataca
Foi há muito tempo...
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada
A vida com uma porção de coisas que eu não entendia bem
Terras que não sabia onde ficavam
Recife...Rua da União...A casa de meu avô...
Nunca pensei que ela acabasse!
Tudo lá parecia impregnado de eternidade
Recife...Meu avô morto.
Recife morto, Recife bom, Recife brasileiro
como a casa de meu avô."

Manuel Bandeira



Ser brasileiro é um sentimento



Estava pensando…por que é tão bom tudo isso aqui?!, digo: do lado de lá, chamado Brasil – PE- Recife....!!!!! São as referências culturais? - Vale! (vale, em español é = ok!), é a nossa relação e história com cada pedacinho de chão? - também vale!, é a família? - vale muito!, é o jeito brasileiro de ser? - vale muito, muito, muito! É a beleza das nossas riquezas naturais? - também vale! Bueno, depois de muito pensar, cheguei à conclusão de que ser brasileiro é um sentimento. Amar ser brasileiro é um sentimento maior ainda, que não tem nada a ver com a negação do bom que há em outros países, ou em ter outras nacionalidades. Sem ufanismo, narcisismo ou egocentrismo, se é que dá pra entender... Explicando melhor: minha irmã tem um blog chamado “Coisa de mãe” http://www.coisademae.blog.br/e ela estava dizendo que ser mãe é, antes de tudo, um sentimento; há mães que não sentem a maternidade de forma intensa ou nem mesmo sentem!, e outras que não são mães biológicas e sentem tudo!, são muito maternais e amam tanto quanto...ou mais. Pois bem, pode parecer uma viagem, mas me lembrei um pouco da sensação de estar no Brasil, mais especificamente, em Recife. Por mais que eu compare e encontre prós e contras em todos os lugares, ser Recifense, Pernambucana, Brasileira é, antes de tudo, um sentimento; um sentimento de pertencimento e de encontro. É a apropriação de tudo de bom (e de ruim) que representamos, afinal, somos a soma de tudo que somos (de bom e de... ruim), mesmo. Não há ser humano só bom, como o revés também é improvável. Então, ser brasileiro, é antes de tudo, se sentir brasileiro e, mais do que isso, amar essa condição e não trocá-la por nada, por mais maravilhoso que seja o país onde se está vivendo. Ser brasileiro é tudo! E muito mais.

"Grande pátria, desimportante, em nenhum instante, eu vou te trair!"