terça-feira, 15 de setembro de 2009

Patrick Swayze morre de câncer

Nunca fui uma grande fã de Patrick Swayze, apesar de que gostava muito de vê-lo dançar. Entre os seus principais sucessos como "Dirty Dancing" y "Ghost", prefiro "Priscila, uma Rainha do Deserto". No entanto, poucas coisas são mais difíceis de se aceitar do que uma morte prematura. Na verdade, prematura ou não, a morte é bastante difícil de se aceitar seja em que idade for, pelo menos para  a maioria dos ocidentais, público em que me incluo. Quando ela é precedida de uma doença terminal parece ainda mais assustadora.

No entanto, o médico-psiquiatra David Servan-Schreiber (que descubriu um tumor no cérebro aos 32 anos, e superou todas as estatísticas de sobrevivência apresentadas em seu caso),  escreveu em seu excelente livro "Anticâncer: Prevenir e vencer usando nossas defesas naturais", p. 217, uma passagem que gosto particularmente, dentre outras tantas:

"Ouve-se freqüentemente dizer de uma pessoa fulminada por um infarto inesperado que ele teve uma "bela morte". Contudo, é um fim que nos priva de toda possibilidade de preparação, de troca, de transmissão, bem como de uma ocasião para dar um fecho às relações incompletas. Não é a que desejo para mim. Hoje, a palavra "câncer" não é mais sinônimo de morte. Mas ela evoca sua sombra. Para muitos pacientes, como foi para mim, essa sombra é a oportunidade de refletir sobre a própria vida, sobre o que se quer fazer dela. é a oportunidade para começar a viver de maneira a poder olhar pra trás, no dia de nossa morte, com dignidade, com integridade. Que nesse dia se possa dizer adeus com um sentimento de paz."
Em outra passagem, ele fala de um paciente, também médico e acometido por um linfoma, p. 210-212:
"Denis era inteiramente ateu(...) mas descobriu aquilo que chamaria mais tarde de alma. A forma como cada uma de suas escolhas, cada uma de suas ações ao longo da vida, tinham sido impressas para sempre no destino do mundo através de suas repercussões infinitas. Como a borboleta proverbial da teoria do caos, cujo batimento de asas influenciam os furacões da América, Denis tomava consciência da importância de cada pensamento, de cada uma de suas palavras. E ainda dos gestos de amor dirigidos aos outros ou à terra. Ele o via agora todos como a semente de uma colheita eterna. Tinha o sentimento, pela primeira vez, de viver cada instante. De abençoar o céu que lhe acariciava a pele, assim como a água que refrescava sua garganta. O mesmo sol que já tinha dado vida aos dinossauros. A mesma água que eles tinham bebido também. Que havia feito parte de suas células antes de se tornar outra vez nuvens, depois oceanos. "De onde vem essa gratidão, a mim que vou morrer?" E depois também o vento, o vento no seu rosto. "Dentro em breve eu serei o vento, a água e o sol. E principalmente a centelha nos olhos de um homem de quem eu cuidei da mãe ou curei o filho. Então, é isso a minha alma. O que eu fiz de mim, que já vive em toda parte e viverá sempre."
Nos últimos dias, quase nao falava mais. Morreu em um final de tarde. Um de seus amigos lhe massageava os pés. De manhã, sobre a minha mesa, eu achei uma nota do meu assistente: "Denis M.: CDR." Um eufemismo usual no hospital para "cessou de respirar". E eu me perguntei se ele não teria justamente começado."