O carnaval no mundo de cá não passou em brancas nuvens. No sábado de Zé Pereira, havia algumas pessoas fantasiadas pela rua; soube que em Chueca, bairro madrileño que leva o nome do escritor, há uma rua que fecham e fazem algo a la espanhola, organizada por um grupo gay, e que ficou meio famoso, sendo reduto atual de todas as tribos. Não fui averigüar, lamentavelmente. O bairro é muito astral e interessante, cheio de gente bonita, bons bares e restaurantes (meio carinho, mas tá valendo).
Acabei improvisando algo aqui em casa mesmo para alguns vizinhos de pueblo. Foi divertido a seu modo. Tomamos muitas caipirinhas, dançamos frevo e samba, e até salsa, teve um pouco de tudo. E a minha grande surpresa, pedi a todos que viessem fantasiados e o fizeram em grande estilo. Já me perguntaram porque não faço outro no mesmo estilo para comemorar a entrada da primavera agora em março :).
Durante 40anos de domínio franquista, o carnaval foi proibido por aqui e pouco a pouco os espanhóis estão redescobrindo essa festividade internacional. Há havido alguns pontos de resistência. Dizem que Cádiz, ao sul Andaluz, pertinho da África, está entre os três maiores carnavais do mundo. Apenas os carnavais do Rio de Janeiro e de Trinidad (ilha da América Central, que junto com a de Tobago formam o país) parecem ultrapassá-lo - é que não conhecem o de Recife e de Salvador. Teve o seu início no século XVII. Veneza e Génova organizam até hoje celebrações carnavalescas anuais, muito chiques por sinal, e Cádiz decidiu adotar e engrandecer esta festa. Além da influência italiana, segundo contam, as tripulações de barcos espanhóis que viajavam para a América voltavam com numerosas influências musicais que ainda permanecem vivas atualmente. De qualquer forma, o carnaval atual é uma mistura de flamenco andaluz, ritmos africanos, samba e outros sons sul-americanos. Há também um espaço reservado na Praça da Catedral para atuações de grupos musicais espanhóis, inclusive de rock. Os carnavais espanhóis de Tenerife e de La Gran Canária também são famosos.
Apesar dessas novas referências, bateu aquela saudade. Assinamos Globo Sat e no melhor do Galo da Madrugada, a Globo Internacional interrompe a transmissão para passar Big Brother. Quase quebramos a tv de raiva. Segunda, terça e quarta de cinzas foram dias absolutamente normais, com aula e alguns compromissos meio chatinhos. É, fazer o qué?! Só nos contentando com os sites, que transmitem MAL, mas deixam aquele gostinho de quero VER mais. Maracatu, caboclinho, frevo, os espetáculos do Marco Zero, a brincadeira espontânea de Olinda, os tambores silenciosos, os frevos de bloco e suas marchas dos carnavais de antigamente, tudo isso que exalta Recife vai ter que esperar. Brincar mesmo, só no mundo de lá. Felizmente, tem todo ano. Este é o consolo.