sexta-feira, 23 de maio de 2008

No mundo de cá tem Santiago






Muitos já ouviram falar do Caminho de Santiago de Compostela; ou leram a respeito, ou já o percorreram, ou sabem de um amigo que o percorreu, ou já o fizeram pessoalmente, ou, ao menos, visitaram a cidade. Pertencemos a esse último grupo. Fomos à cidade, e nos dedicamos principalmente a conhecer a catedral, do século XI, que se transformou com o passar dos anos no mais importante santuário da Europa depois da Basílica de São Pedro, em Roma. Pois bem, diria que Santiago nos convida a distintos olhares, dependendo do interesse e inclinação de cada um. Tem o olhar histórico, o olhar arquitetônico, o olhar aventureiro... Sem dúvida, o olhar religioso sobrepõe-se aos demais, afinal, a cidade leva o nome de São Tiago, apóstolo de Cristo, cujos restos mortais se encontram sepultados na catedral. Sim, mas não gostaria de falar da cidade propriamente, nem da catedral (são realmente belíssimas e valem muito a pena conhecer), mas de algo que me chamou particular atenção: os peregrinos. São uma visão à parte. Lamentei não ser eu mesma uma deles. Seus rostos bronzeados e fatigados, cajados na mão, roupas em geral suadas e amassadas, mas o mais impressionante: levam no olhar uma certa serenidade e um sorriso de vitória por uma descoberta incompreendida por nós, simples mortais, que ali estamos, bonitinhos e perfumados, caídos de pára-quedas na cidade. Eles são os únicos verdadeiramente não anônimos na multidão que se forma. Também chamam atenção pelo ritual cumprido de forma emocionada até a chegada ao altar para abraçar a imagem pétrea, sentada e serena de Santiago, na catedral. Conta-se que a origem do abraço à imagem do Apóstolo passou a ser adotada como coroação da vitória do peregrino, que, havendo cumprido com suas obrigações, penitência, meditação e desapego material, reconcilia-se com sua própria fé. Após o abraço, procede-se à visita ao sepulcro. Aqueles que fazem o caminho com o objetivo do reencontro espiritual, dizem perceber a transformação ao longo do trajeto, quando o cansaço, os laços de cumplicidade criados com outros peregrinos, a generosidade que se instala e a atmosfera mística passam a ser mais fortemente sentidas. Sin embargo, numa das minhas peregrinações pelo Mundo de cá, gostaria de vir a ser uma peregrina. O nome do meu filho origina-se do nome do santo e, por isto mesmo, ele acabou por merecer uma bênçao especial do padre na nossa visita à catedral. Bueno, quem sabe, meio caminho andado.