terça-feira, 4 de agosto de 2009

A mulher de 30... e poucos

Aos 30, li "A Mulher de 30" de Balzac e adorei. Apesar de ser mais trágico do que eu imaginava, o livro tem uma capacidade ímpar de descrever "essa" mulher, seus desejos, necessidades e frustrações.

Recentemente, lendo Mario Prata, autor brasileiro que adoro, dei de cara com uma crônica dele de 5 anos atrás. Ele volta ao tema. Talvez pelos meus 36 recém-completados, tenho pensado muito na idade, e apesar de ser uma mulher bem diferente do estereótipo descrito por Mario Prata, para o bem e para o mal (?!), também adoro como ele descreve "essa" mulher. Vamos ao texto de Mario:

"O que mais as espanta é que,
de repente, elas
percebem que já são balzaquianas. Mas poucas balzacas leram
A Mulher de Trinta,
do Honoré de Balzac, escrito há mais de 150 anos. Olhe o
que ele diz:

“Uma mulher de trinta anos tem atrativos
irresistíveis. A
mulher jovem tem muitas ilusões, muita inexperiência. Uma
nos instrui, a outra
quer tudo aprender e acredita ter dito tudo despindo o
vestido. (...) Entre elas
duas há a distância incomensurável que vai do
previsto ao imprevisto, da força à
fraqueza. A mulher de trinta anos
satisfaz tudo, e a jovem, sob pena de não
sê-lo, nada pode satisfazer”.

Madame Bovary,
outra francesa trintona,
era tão maravilhosa que seu criador chegou a dizer
diante dos tribunais:
“Madame Bovary c’ést moi”. E a Marylin Monroe que fez tudo
aquilo entre 30 e 40?

Mas voltemos à nossa mulher de trinta, a
brasileira-tropicana,
aquela que podemos encontrar na frente das escolas pegando
os filhos ou num
balcão de bar bebendo um chope sozinha. Sim, a mulher de trinta
bebe. A mulher de trinta é morena. Quando resolve fazer a besteira de tingir os
cabelos de amarelo-hebe passam, automaticamente a terem 40. E o que mais
encanta nas de trinta é que parecem que nunca vão perder aquele jeitinho que
trouxeram dos 20. Mas, para isso, como elas se preocupam com a barriguinha.

A mulher de trinta está para se separar. Ou já se separou. São raras
as mulheres que passam por esta faixa sem terminar um casamento. Em
compensação, ainda antes dos quarenta elas arrumam o segundo e definitivo.

A grande maioria têm dois filhos. Geralmente um casal. As que ainda
não tiveram filhos se tornam um perigo, quando estão ali pelos 35. Periga
pegarem o primeiro quarentão que encontrarem pela frente. Elas querem casar.

Elas talvez não saibam, mas são as mais bonitas das mulheres. Acho
até que a idade mínima para concurso de miss deveria ser 30 anos. Desfilam
como gazelas, embora eu nunca tenha visto uma (gazela). Sorriem e nos olham
com uns olhos claros. Já notou que elas têm olhos claros? E as que usam uns
cabelos longos e ondulados e ficam a todo momento jogando as melenas para
trás? É de matar.

O problema com esta faixa de idade é achar uma que
não esteja terminando alguma tese ou TCC. E eu pergunto:
existe algo mais excitante do que uma médica de 32 anos, toda de branco, com o
estetoscópio balançando no decote do seu jaleco diante daqueles hirtos seios? E
mulher de trinta guiando jipe? Covardia.

A mulher de trinta ainda não fez plástica. Não precisa. Está com tudo em cima. Ela, ao contrário das de vinte, nunca ficaram. Quando resolvem vão pra valer. Fazem sexo como se fosse a última vez. A mulher de trinta morde, grita, sua como ninguém. Não finge. Mata o homem, tenha ele vinte ou 50. E o hálito, então? É fresco. E os pelinhos nas costas, lá pra baixo, que mais parecem pele de pêssego, como diria o Machado se referindo a Helena que, infelizmente, nunca chegou aos
30?

Mas o que mais me encanta nas mulheres de trinta é a independência. Moram sozinhas e suas casas tem ainda um frescor das de 20 e a maturidade das de 40. Adoram flores e um cachorrinho pequeno. Curtem janelas abertas. Elas sabem escolher um travesseiro. E amam quem querem, a hora que querem e onde querem. E o mais importante: do jeito que desejam.

São fortes as mulheres de trinta. E não têm pressa pra nada. Sabem
onde vão chegar. E sempre chegam.
Chegam lá atrás, no Balzac: “a mulher de trin
ta anos satisfaz tudo”."