quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Viena também é terra de Sissi



Lembra de Sissi “A Imperatriz”? Aquela do filme protagonizado pela atriz Romy Schneider? Pois bem, Sissi era Elisabete da Baviera, que se transoformou em imperatriz da Áustria em meados do século XIX ao se casar com o imperador Francisco José I. Era considerada a mulher mais bonita da Europa em seu tempo. O imperador trocou sua irmã Helena para se casar com ela. Infelizmente, a vida de Sissi não foi nenhum conto de fadas. A sogra, arquiduquesa Sofia, era realmente uma megera, e o imperador, embora apaixonado, era workaholic, ausente, muito conservador e absolutamente subserviente às regras sociais tão defendidas pela mãe. Ambos a obrigavam a viver em uma gaiola de ouro na sua adolescência. Dizem que o nome da primeira filha, homônimo da sogra, foi escolhido a contragosto de Sissi. Desafortunadamente, a criança morreu aos primeiros 2 anos de vida. Depois dela, ainda outros 3 filhos fizeram parte da família: Gisela, Rudolfo e Maria Valéria. Rudolfo, herdeiro do trono, foi encontrado morto - tudo indica que foi assassinado - ao lado da amante, o que aumentou ainda mais o desgosto de Sissi.

Sissi sofria de depressão por causa de seu casamento infeliz, devido às trágicas mortes, e por ser obrigada a manter certa distância dos filhos. Tinha uma rígida vida na corte de Habsburgo. Era culta, escrevia poesia, era rebelde, irreverente, e pouco a pouco se tornou obcecada pela sua beleza e boa forma. Com 1,73 de altura e 45 kg, quase anoréxica, além de comer pouco e fazer muitos exercícios físicos, adorava cavalgar. Tardava 3 horas penteando seus longuíssimos cabelos de mais de 1 metro e meio. Tinha uma empregada que era sua sósia e a substituía em alguns papéis (acenando para o povo diariamente da janela do palácio em algumas ocasiões, por exemplo). Apesar de ter uma forte personalidade, inevitavelmente, teve que se submeter às muitas exigências da monarquia. Deprimiu e teve a infelicidade de morrer muito cedo, aos 61 anos, vítima de um assassino italiano, anarquista, que tinha outro alvo, mas ao descobrir que Sissi estava em Genebra, creía que era uma personalidade com mais notoriedade.

Era uma figura muito carismática, mas como se negava muitas vezes a acompanhar o marido, e na maturidade viajava muito sozinha - dizem que tinha amantes - a Áustria se ressentia de seu comportamento, sobretudo a aristocracia.

Após sua morte, o que acontecia no Palácio se tornou público e o povo passou a adorá-la. O filme teve um papel importante ao torná-la mito. Hoje, sua imagem é explorada em quase tudo, há um museu que leva seu nome e abriga suas coisas, e o Palácio onde ela viveu é aberto ao público.

Sissi, a personagem do filme, é um ídolo para minha mãe. Me empenhei em conhecer a verdadeira história para contá-la, mas pensando melhor, as fantasias são normalmente mais interessantes do que a vida real. Talvez ela prefira ficar com a versão cinematográfica.





















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De Viena para o Mundo de lá
















Estive em Viena, uma cidade lindíssima. De avião, são 2h30 de Madri. Meu marido foi a trabalho e segui a tiracolo sem pestanejar. Cidade da música clássica, terra de Mozart (nasceu em outra cidade austríaca, mas viveu quase toda sua vida em Viena) e Strauss. Foi também onde Beethoven, Freud e tantos outros fizeram fama.

A população é extremamente acolhedora, pouco reativa, simpática e cosmopolita. Apesar de falar um dialeto alemão, o inglês é uma segunda língua muito BEM falada e ouvida pelas ruas. Todas as universidades são públicas e consideradas de excelente qualidade, atraindo inclusive muitos alemães (que privatizaram demais nos últimos tempos).

As guerras, no entanto, deixaram profundas marcas em seu povo e sua arquitetura. Como foi palco da primeira guerra mundial e ficou ao lado da Alemanha na segunda, possui relíquias seculares destroçadas que ainda levarão anos para serem restauradas por completo, sem falar nas conseqüências diretas econômicas, psicológicas e sociais. A Ópera, por exemplo, foi bombardeada pelos americanos que pensavam ser uma estação de trem. Nada comentam sobre a primeira guerra, já sobre a segunda, dizem que não sabiam dos verdadeiros planos de Hitler (a gente finge que acredita pra sair bem na foto). Um dos discursos históricos nazistas ocorreu no alto de um dos belíssimos edifícios do centro. Hoje, há uma praça dedicada aos judeus que foram vítimas da segunda grande guerra, com uma bandeira negra e um sepulcro de concreto no meio.

Viena tem um casco histórico lindíssimo, glamoroso e conservado, a parte mais antiga da cidade. Carruagens vendem percursos (40 euros o mais barato), há muitos quiosques pelas ruas vendendo vinho quente ou poncho, uma bebida a base de canela e vinho que lembra um pouco o conhaque – tomei vários, pois realmente tem o poder de esquentar. O rio Danúbio é uma atração à parte. Corta toda a cidade e é muito bonito de se ver. Ali, o Natal é comemorado em grande estilo. Músicas natalinas no melhor estilo clássico, feirinhas, linda iluminação, muita gente pelas ruas. Apesar disso, Viena é uma cidade muito pouco ruidosa, o que me faz estranhar muito. As pessoas falam baixo, o tráfico também é mais para o silencioso, e imagino que em época não festiva, seja um pouco monótona.

No Natal, as pessoas se soltam (numa comparação grosseira, é quase como o nosso carnaval vivido no interior das pequenas cidades). O veado é a mascote principal e as pessoas andam com chapéus com dois cornos, de forma muito natural e engraçada. Chapéus de papai Noel também são comuns ornamentando cabeças de turistas, principalmente europeus, e nativos. A cidade está repleta de feirinhas de Natal que são simplesmente maravilhosas. Comi todo tipo de lingüiça, cada uma mais deliciosa do que a outra, e muita mostarda. O frio (fazia perto de zero grau) ainda está ameno para padrões austríacos, no entanto, já incomoda bastante, principalmente quando o que há de mais interessante a ver está nas ruas do centro antigo, muito diverso e cheio de atrações.

Pela sua geografia, sofre atualmente mais influência econômica e social da migração do leste europeu do que Madri. Búlgaros, iugoslavos, etc. migram para ali em busca de melhores condições de sobrevivência. Quando saímos do centro histórico, lembramos claramente que ali há também muita pobreza. Os prédios “novos” da periferia não seguem o glamour clássico da cidade e necessitam de conservação.

No Belvedere, fui apreciar a exposição de Gustav Klimt e me encantei. É lamentável que hoje se faça tanta gravura replicando seus principais quadros, pois as cores, os traços, tudo é muito diferente do que vemos nos pratos, pôsteres, camisetas que ilustram suas obras mais famosas.

Bem, 5 a 7 dias bem vividos é o suficiente para conhecer os pontos turísticos principais da cidade e, apesar do frio dessa época do ano, vale muito a pena.