quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Ser estrangeiro - Parte 2


Acho que aos poucos ser estrangeiro passa a ser mais um estado de espírito do que uma questão de geografia. É uma sensação de deslocamento, de não pertencimento. Acabo de voltar do Brasil e nunca foi tão forte esse sentimento, o de “estar sem estar, de ser mas não ser”.  As idas ao Mundo de lá (Brasil) são sempre precedidas por ansiedade, felicidade e expectativa; a tão famosa necessidade de regressar de Saramago. No entanto, é óbvio que pelo menos por enquanto aquele também não é o meu mundo. Depois de quase 4 anos fora, tudo provoca uma estranheza. Algumas questões práticas amplificam essa sensação, como o fato de que a pequena estrutura que contamos no Recife é proporcionada pelos familiares, quero dizer, não é nossa de verdade:  carro, celular, casa... Além disso, por opção nossa, cada vez mais as idas ao Brasil se resumem a compartilhar da companhia dos familiares mais próximos, restando pouco tempo para curtir a praia, redescobrir a cidade, rever velhos amigos. A cada ida, vivemos uma angústia entre estar mais tempo com a família, rever todos que gostaríamos ou ter o tempo livre sem uma agenda abarrotada de compromissos. Estar longe é difícil, mas estar perto nestas condições também é. Apesar disso, tão logo voltamos a Buenos Aires, a saudade começa a apertar, e já começamos a programar nossa ida ao Brasil para o mais breve possível, ansiando novamente que chegue o grande dia e que possamos mais uma vez abraçar e estar perto das pessoas que amamos. É, pensando bem, nisso a estrangeirice é menor... esses arroubos afetivos são bem coisa de brasileiro.