segunda-feira, 11 de agosto de 2008

O prato de Segóvia

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Sabe aquele prato suculento mostrado nos post sobre Segóvia?! É um cochinillo, porquinho de 6 semanas alimentado só com leite materno. Normalmente, o porco pesa de 4,5 kg a 6 kg. O porco é assado em forno de pedra até ficar crocante e não leva nenhum ingrediente especial, seu sabor é absolutamente natural. Cândido é o gourmet que ficou famoso fazendo os cochinillos de Segóvia. Segundo dizem em Arévalo, cidade próxima, o cochinillo inicialmente era feito só ali, porém, Cândido o comprava em Arévalo e o levava a Segóvia e lá o tornou famoso. Além do excelente sabor, delicado e especial, sua carne é tão macia que Cândido cortava com um prato. Vale a pena provar.
http://www.cochinillodesegovia.com/

Ana Maria Braga

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Cozinhar nunca foi meu forte. Na verdade, nunca gostei nem me interessei por gostar. Acho que minha mãe, apesar de cozinhar bem, nunca gostou de fazê-lo por obrigação e talvez por isso nunca tenha nos estimulado, a mim e à minha irmã, a dominarmos as artes culinárias. Sem falar que nos educou para sermos, antes de tudo, profissionais. As atividades domésticas, segundo ela, não levavam ninguém pra frente. Minha irmã, no entanto, que já morou sozinha por vários anos, antes de se casar, acabou por ser mais hábil na cozinha, talvez pela necessidade de fazê-lo. Já eu, quando saí de casa, direto para o altar, encontrei no meu marido um exímio cozinheiro. Bem, quase todos os meus problemas estavam resolvidos. O trivial eu fazia, quando necessário, e o especial sempre ficou por conta dele. Aliás, sempre procuro coisas práticas, leia-se: que não dêem muito trabalho. Já Demetrio, meu distinto marido, quando inventa de fazer um prato, sempre é o mais complicado. Para fazer uma paella, por exemplo, começa no dia anterior, vai ao supermercado 2 vezes caso tenha esquecido algum ingrediente que considera fundamental para o prato, compra um bom vinho para fazê-lo companhia na hora de cozinhar, enfim, até a nossa cozinha do Recife (da nossa segunda casa), fizemos no estilo americano, sabe aqueles balcões virados pra sala? Sem falar que ele vai cozinhando e lavando, assim, após o prato pronto, a cozinha já está limpíssima. Importantíssimo: não gosta de ajuda, as vezes que tentamos cozinhar juntos, deu briga, assim, prefere fazer sozinho. Melhor impossível! Quando morávamos em Recife, ele fazia questão de comprar o pescado, o camarão, o polvo, ou o que fosse de frutos do mar, no Pina, fresquíssimos, acabados de chegar da pescaria, o meu oposto neste sentido.

Pois bem, agora, vivendo no mundo de cá, tenho sentido falta destes dotes em mim. Quando quero fazer algo mais elaborado, levo horas, e o menos elaborado, também. Ou seja, "perder tempo" na cozinha para mim é inevitável. Agora, que meu filho não está na escola, de férias, tem sido horrível! - come no Comedor da escola, que vai das 9h às 16h - , imaginem ter que cozinhar depois de anos sem quase fazê-lo? Depois que Iago nasceu, passei a ter secretária permanentemente e me aposentei da cozinha. Imaginem agora voltar a cozinhar justo para uma criança de 6 anos, vejam a cena: - "Mamãe, quero um spaguete a bolonhesa!", - fico feliz: facílimo! O mais demorado seria ter de fazer a carne moída, mas aqui na Espanha há preparos prontos de molho saborosíssimos, restando fazer somente o spaguete, que é baba! - não tem o que fazer, na verdade, água, sal, um pouco de azeite (ñ gosto de óleo, nem é saudável), e retirar o spaguete do fogo no ponto para que fique ao ponto, e pronto!, já está! O problema é quando ele muda de idéia depois do prato feito. - Ah, não quero esse (mesmo sem provar se está bom ou não), mas estou com fome. - Claro! Acostumado com variedade, paparicados mil. Gil, a antiga babá, fazia bolinhos de feijão para que ele comesse com verdurinha picada, sem falar que o macarrão sempre se transformava no cabelo de um rostinho cuidadosamente elaborado no prato, cujos olhos eram o feijão, o nariz, a cenoura, o tomate, a boca, enfim, tudo muito lúdico, regado com muita paciência, carinho, tempo e, sobretudo, uma boa história durante o almoço para tirarmos ele da bendita televisão. Acostumei mal, sou culpada, reconheço, sempre estimulei isso para vê-lo comer bem e não ter eu mesma que fazer o serviço, que honestamente, também não é o meu forte.

Bem, voltando ao spaguete que ele não quis comer, digo eu, bem ao estilo español: - Come!, é o que tem! e afinal você pediu, além disso, na escola você tem que comer o que tem também, não é? - É, mas eu não gosto e como mal. - o que é verdade, já me reclamaram que ele não come bem no Comedor da Escola e sempre é um pouco estressante pra ele, pois TEM que comer e, enfim, sempre reclama muito ter que comer na escola. Mas imaginem! Eu, a lentidão do mundo todo na cozinha, ter que fazer de improviso outra coisa a essa altura do campeonato?! Fatal! Passei a ter uns pratos prontos para casos de emergência, mas o danadinho é exigente. Depois de um sermão de que ele já não tem mais idade pra isso, que tem muita gente morrendo de fome, etc., etc., não tem jeito, sente-se culpado, mas acaba não comendo do mesmo jeito, e a fome continua. Já tentei deixar com fome até que ele pudesse finalmente provar o que pediu, mas nem sempre funciona. A sorte é que moramos numa rua cheia de bares e restaurantes, ou seja, vira e mexe, descemos e resolvemos o problema, mas claro!, é uma solução provisória, não posso passar minha temporada espanhola nesse estresse. Tenho que reeducá-lo, e quanto a mim, reaprender a cozinhar. Não tem jeito! O pobre do meu marido, para me ver sofrendo menos já deixou algumas coisas prontas no dia anterior em alguns momentos, mas também é uma solução pontual, não dá para fazer isso sempre, depois de um dia inteiro trabalhando, a uma hora da nossa casa.

Bem, que inveja de Ana Maria Braga! O pior é que hoje eu havia decidido que, depois da aula de espanhol, me dedicaria a fazer um bom prato para almoçarmos, mas sabe o que é... dormi mal, as caixas com minhas coisas do Brasil chegaram e tive que organizar algumas, também tenho o El País de domingo que li tão rapidinho..., tenho o blog... enfim, passou o tempo, já são 12h30 e... nada! - se bem que tudo na Espanha acontece 2 horas mais tarde, ou seja, ninguém almoça antes das 14h - sem falar que Iago não sabe hoje o que quer comer, ou seja, tudo pode ser motivo para nem sequer provar!!!! Bueno, definitivamente, não nasci para isto! Acho que hoje vamos "morrer" no Burguer King... Agora, tenho que ir. Ele acaba de dizer: - Mãe, estou hambriento! (leia-se: faminto!). A ver...