segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Aranjuez



Para os apreciadores da natureza, Aranjuez é uma cidade interessante de ser visitada. A 50 km de Madrid, 45 minutos de carro, é considerada pela Unesco “Ciudad Paisaje Cultural Patrimonio de la Humanidad”. Foi residência da realeza e guarda nos seus rincones uma parte importante da História Espanhola. É uma cidade com vários monumentos e jardins.



Uma primeira parada recomendada é à Oficina de Turismo, próxima ao Palácio Real, que oferece um mapa da cidade e sugere algumas atrações. A principal visita em minha opinião é ao Palácio Real que preserva quase intactos os compartimentos internos.



Os “Jardines de La Isla”, ao redor do Palácio, também possibilitam uma caminhada bucólica por estátuas e fontes.




Nos “Jardines Del Príncipe”, enorme parque, está situada a “Casa de Marinos” (onde estão expostas embarcações reais denominadas falúas), e a “Casa do Labrador”. Ambos têm horas específicas de visitação e para ir à “Casa do Labrador” especificamente é fundamental ligar antes para viabilizar a visitação, que só ocorre em grupos de até 10 pessoas.

Aranjuez também é muito conhecida pelo Festival da Fresa (morango), que acontece anualmente em setembro, já bastante recomendado por alguns amigos espanhóis. Nessa mesma época se celebra o famoso “Motín de Aranjuez” que ocorreu de 17-19 de março de 1808. O Motín precipitou a desejada ascensão ao poder de Fernando VII pela população e é marco fundamental para o início da queda do domínio de Napoleão Bonaparte sobre a Espanha, precipitando a Guerra da Independência de 02 de maio, em Madrid.



É uma cidade muito amigável às crianças pelo agradável do enorme espaço ao ar livre e do glamour de suas paisagens. Do ponto de vista gastronômico, recomendam provar as rãs, os caranguejos de rio e os morangos, além dos vinhos e chocolates quentes. Como toda visita a um povoado espanhol, recomenda-se informar-se com antecedência as horas de abertura e fechamento dos pontos turísticos, detalhe que não levei muito em consideração e creio que alguns locais importantes que não cheguei a conhecer merecem uma segunda chance.



É um bom roteiro para passeio, e pode ser incluído antes da visita a Toledo, está na mesma “ruta”. Vale a pena.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Pense no Haiti. Reze pelo Haiti


foto de propriedade do El País

No site brasilhaiti.com,  o Professor Ricardo Seitenfus, brasileiro, gaúcho, representante especial do secretário-geral da OEA em Porto Príncipe, relata o que presenciou. Por pouco, não se tornou ele mesmo em uma vítima direta da tragédia:

"Cheguei a Porto Príncipe na madrugada de sexta-feira. O edifício onde residi por um ano desabou completamente. Perdi grande parte dos vizinhos e a totalidade de meus objetos pessoais. Tivesse eu adiado minhas férias por cinco dias, estaria também sob aqueles escombros. Trago comigo apenas a mochila que veio do Brasil, com alguma roupa e três cachimbos. Durmo no acampamento das Nações Unidas. Busco notícias dos cerca de cem funcionários que se encontram a serviço da Organização dos Estados Americanos no Haiti, dos muitos amigos universitários, diplomatas, políticos e militares. A maior parte de meus interlocutores diários faleceu.
Entre as incontáveis preocupações que me assaltam hoje, sublinho a relação entre a natureza e a obra humana. Todo terremoto de tal escala causa danos de monta. Porém, se a catástrofe no Haiti alcançou tamanha amplitude, especialmente se centenas ou milhares de pessoas seguem morrendo por falta de socorro, isto se deve à inexistência prévia de um Estado proficiente em saúde pública, habitação e trabalho. A cooperação sul-americana no Haiti, extraordinário avanço da política externa da região, estava buscando exatamente forjar os meios para superar os limites de uma missão de paz tradicional, beneficiando a população de modo estrutural e permanente com variados projetos, inclusive de agricultura familiar e saneamento básico.
O Haiti vive na urgência e na precariedade desde muito antes da tragédia do presente. Trata-se de um Estado débil, dependente da ajuda internacional. O território foi particularmente castigado por catástrofes naturais. Porém, o atraso no desenvolvimento do Haiti deve-se também a outros fatores, entre os quais destacam-se as ditaduras cruéis que produziram uma cultura política de privilégios e violência. Durante a ditadura da família Duvalier, sob a batuta dos famosos Papa e Baby Doc, entre as décadas de 1950 e 1980, o Haiti mergulhou na pobreza e na corrupção. O legado autoritário repercute em todas as dimensões da vida nacional.
Por tudo isso, o Brasil, em particular, deve orgulhar-se do trabalho lá realizado e persistir na ideia de trocar o mero (e sem fim) assistencialismo, ou a obsessão securitária, pela cooperação profunda, capaz de gerar autonomia. Os desafios da reconstrução são imensos, e apenas uma aliança entre os países das Américas será capaz de enfrentá-los. Nela, o Brasil deve manter e consolidar seu protagonismo. Eis um assunto de Estado, e não de governo. Os homens e as instituições se deixam conhecer plenamente no modo como reagem aos grandes traumas gravados pela História. O horror ora vivido pelo Haiti é um deles." (Professor Ricardo Seitenfus, para o site brasil_haiti.com)



Letra da música composta por Caetano, muito antes da tragédia deste ano:
"Quando você for convidado pra subir no adro
Da fundação casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos e outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
E não importa se os olhos do mundo inteiro
Possam estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque um batuque
Com a pureza de meninos uniformizados de escola secundária
Em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada:
Nem o traço do sobrado
Nem a lente do fantástico,
Nem o disco de Paul Simon
Ninguém, ninguém é cidadão
Se você for a festa do pelô, e se você não for
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui
E na TV se você vir um deputado em pânico mal dissimulado
Diante de qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer, qualquer
Plano de educação que pareça fácil
Que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça de democratização
Do ensino do primeiro grau
E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
E nenhum no marginal
E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco
Brilhante de lixo do Leblon
E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo
Diante da chacina
111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui"

"Es por Madrid": Festival Solidário pelo Haiti



Vi em Es por Madrid que estão preparando vários festivais para arrecadar dinheiro para as vítimas do terremoto no Haiti. Em troca de um bom espetáculo, as pessoas podem colaborar com os haitianos a um preço de entrada de 10 euros, com consumação, na Sala de Ritmo y Compás, no próximo dia 27 de janeiro, às 21h. A Sala está situada à Calle Conde de Vilches 22/Madrid. O dinheiro será entregue aos Bombeiros sem Fronteiras (BUSF). A notícia também pode ser encontrada em lanocheenvivo.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Traduzir-se


Feliz Ano Novo (do Brasil para o mundo)!

"Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
_ que é uma questão
de vida ou morte _
será arte?"
Ferreira Gullar