"A comunidade dos justos é estrangeira na terra, ela viaja e vive de fé no exílio e na mortalidade" (Sérgio Buarque de Holanda).
domingo, 29 de junho de 2008
Espanha: Campeã da Eurocopa
Podemos sííí!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
sexta-feira, 27 de junho de 2008
Rumo à final
quinta-feira, 26 de junho de 2008
A volta
Pelos últimos posts, dá pra imaginar que eu tô rindo e cantando à toa, não é? Estou de volta. Eita terrinha boa! E olhe que ainda não fui à praia, só vi de longe, o que já deu aquele alento só por "estar em casa". Dei um "xêro" grande no Notívago de Boa Viagem (título de um dos primeiros posts deste blog, lembra?), e ainda não estou satisfeita. Muitos beijos, abraços e apertos ainda se seguirão, se Deus quiser, bem ao estilo nordestino de ser.
Chegamos há poucos dias, e ainda estamos meio no "ar". É esquisito ser turista na sua própria Terra. Quando vivíamos aqui, nas férias costumávamos viajar, de maneira que passar as férias em Recife é absolutamente novo.
É impressionante também como, antes de irmos à Espanha, deixamos muitas coisas não resolvidas, sem falar numa série de móveis e cacarecos amontoados na casa dos parentes. Eu não tinha idéia, até estar de volta, do quanto a casa da minha mãe, em especial, havia ficado intransitável com o que restou da minha antiga casa aqui do Brasil. Mãe é mãe, não é? Meus móveis misturados com os dela, um monte de treco pelos cantos, que a pobre não sabe o que fazer... A nossa antiga cama de casal foi parar no meu antigo quarto de solteira, o escritório virou quarto infantil para receber o neto Iago; tudo lindo!, cuidadosamente preparado para nos receber, a casa inclusive está temática: não há dúvidas do nascimento de São João Batista, até os quartos foram decorados, com a ajuda do outro neto João Marcelo, com bandeirinhas e balões juninos.
Nessa minha estada de um mês pelo Brasil, falta ainda: dançar muito forró, ir à praia, rever tantos e tantos amigos e familiares queridíssimos, falta dar um grau no meu grande amigo "o violão" (título de outro post desse blog), e poder voltar a aproveitar mais sua companhia, falta jogar futebol às segundas-feiras (as quartas-feiras viraram segundas), e... já estou exausta com tantos planos!
Mais uma vez a esperança pousou em minha casa, dessa vez, no Mundo de lá... Eita! Agora fiquei confusa... mundo de cá ou de lá? Como tudo é uma questão de referencial, deixa estar! que tá muito bom nos dois mundos.
quarta-feira, 25 de junho de 2008
Essa moça tá diferente
"Essa moça tá diferente
Já não me conhece mais
Está pra lá de pra frente
Está me passando pra trás
Essa moça tá decidida
A se supermodernizar
Ela só samba escondida
Que é pra ninguém reparar
Eu cultivo rosas e rimas
Achando que é muito bom
Ela me olha de cima
E vai desinventar o som
Faço-lhe um concerto de flauta
E não lhe desperto emoção
Ela quer ver o astronauta
Descer na televisão
Mas o tempo vai
Mas o tempo vem
Ela me desfaz
Mas o que é que tem
Que ela só me guarda despeito
Que ela só me guarda desdém
Mas o tempo vai
Mas o tempo vem
Ela me desfaz
Mas o que é que tem
Se do lado esquerdo do peito
No fundo, ela ainda me quer bem
Essa moça tá diferente etc..
Essa moça é a tal da janela
Que eu me cansei de cantar
E agora está só na dela
Botando só pra quebrar
Mas o tempo vai.."
Chico Buarque
domingo, 22 de junho de 2008
Podemos sim!!!!
GGGOOOOOOOOOOOOOOOOLLLL!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Espanha nas Semifinais da Eurocopa... Amigos e familiares acompanharam daqui do Brasil a partida emocionante contra a Itália, nas quartas de final. Confesso que fiquei bastante dividida, mas entre acompanhar a partida pelo rádio e ir ver o forró e as fogueiras de São João no centro de Gravatá - cidade serrana a 90 km da capital de Pernambuco, Recife, a segunda alternativa foi irresistível: ainda muita saudade. Bem, quando voltei da cidade, sem muita esperança de boas notícias sobre o jogo (menos pelo time espanhol, e mais pelo grande favoritismo do campeão mundial italiano), estava justamente nos pênaltis. No futebol, como na vida, o imprevisível muitas vezes acontece. A Espanha confirma então o otimismo do slogan abraçado pelo Canal espanhol Cuatro: Podemos sí! , com ou sem São João. Fenomenal! Madri deve estar fervendo, e nós aqui fervendo de outra forma, nas fogueiras de Gravatá. Muitos fogos, muita música (forró), reencontro com família e amigos..., só faltava mesmo essa vitória para termos felicidade nos dois mundos. Agora, a nosotros só resta aproveitar o mundinho de cá, com um sorriso no rosto também pela vitória do de lá.
http://br.youtube.com/watch?v=a4fDItYRVVI&feature=related
sexta-feira, 20 de junho de 2008
Tanta saudade
http://br.youtube.com/watch?v=VJdgR-qF-nU
Ana Carolina e Seu Jorge
"Era tanta saudade
É, pra matar
Eu fiquei até doente
Eu fiquei até doente, menina
Se eu não mato a saudade
É, deixa estar
Saudade mata a gente
Saudade mata a gente, menina
Quis saber o que é o desejo
De onde ele vem
Fui até o centro da terra
E é mais além
Procurei uma saída
O amor não tem
Estava ficando louco
Louco, louco de querer bem
Yeah, tum tum tum, tumtumtumtum, yeah...
Mas restou a saudade
É, pra ficar
Ai, eu encarei de frente
Ai, eu encarei de frente, menina
Se eu ficar na saudade
E deixar
Saudade engole a gente
Saudade engole a gente, menina
Quis saber o que é o desejo
De onde ele vem
Fui até o centro da terra
E é mais além
Procurei uma saída
O amor não tem
Estava ficando louco
Louco, louco de querer bem
Quis chegar até o limite
De uma paixão
Baldear o oceano
Com a minha mão
Encontrar o sal da vida
E a solidão
Esgotar o apetite
Todo o apetite do coração
Tum tum tum, tumtumtumtum, yeah...
Ai, amor, miragem minha, minha linha do horizonte, é monte atrás de monte, é
monte, a fonte nunca mais que seca
Ai, saudade, inda sou moço, aquele poço não tem fundo, é um mundo e dentro
um mundo e dentro é um mundo que me leva..."
Composição:Chico e Djavan
quinta-feira, 19 de junho de 2008
O truque da estrangeira
É verdade que uns me perguntam se vivo na selva, o que não me surpreende, pois o quê a Amazônia é hablada aqui não é brincadeira! Mas a grande maioria, mesmo não conhecendo o Mundo de lá - apesar de já ter ouvido falar das belas praias, mulheres bonitas, futebol e carnaval (e da floresta, claro) - se interessa bastante pelo nosso modo de vida, aprecia a música brasileira, em especial a bossa nova, e é muito curiosa por saber como vivemos. Sobre a nossa música, é impressionante como ela é referência!, a ouvimos em muitos lugares de Madri, desde um passeio pelo El Corte Inglês ou Ikea (nossa Tok & Stok), a uma ida a um bar, restaurante. A capoeira também é muito famosa e admirada.
Uma curiosidade geral, no entanto, infelizmente, é sobre a violência. Uma esteticista muito simpática, e já bastante querida, uma vez me disse: “falam tanto que é perigoso que a gente pensa que não há vida ali”. A sinceridade dela pode não ser dita pela maioria, mas creio que é “pensada” por muitos e infelizmente reflete a situação da desigualdade social existente no nosso país. Quando fui a um caixa eletrônico às 23h da noite aqui embaixo de casa, a pé, sem um “ai” do meu marido, pensei sobre isso. Caminhar em paz livremente, sem se preocupar se você volta ou não inteiro pra casa, não tem preço. Aqui, em geral, as pessoas não andam tão inseguras pelas ruas e quando há algo, sempre há alarde. É verdade também que dizem que a delinqüência aumentou e é bom não dar bobeira, mas não se compara com as nossas preocupações. A mesma esteticista me disse que há sítios – lugares- em Madri peligrosísimos, e eu pensei cá com meus botões o que ela considera perigosíssimo...! Bem, mas o meu objetivo não é fazer um tratado sobre o assunto, mas compartilhar com vocês a visão geral sobre a gente e o nosso país.
Já os mais cultos, me perguntam sobre tudo: sobre a ocupação portuguesa, sobre as influências da capoeira, sobre a miscigenação, e quando não sei o que responder, o grande truque: não entendi! o español estava muito difícil ou ñ sei explicar no idioma. Sempre funciona. Aí, estudo um pouquinho sobre o assunto e o español volta a funcionar. Já sou meio antropóloga, socióloga e todas as "ólogas" que vocês podem imaginar. O truque do não entender também funciona quando estou nas calles - ruas - e alguém quer me vender algo ou entregar um panfleto seguido de uma explicação longuíssima, aí o português é tiro-e-queda, funciona que é uma beleza: digo que não entendo nada e ufa! estou livre. Tirando o exagero, realmente faz muito tempo que não preciso falar do nosso país para um não-nativo, e é aí que você percebe saber muito pouco ou menos do que gostaria e deveria; pelo menos, falo por mim. Gostaria de conhecer mais e explicar melhor muita coisa. Parei de estudar a Espanha!, agora tenho me dedicado a estudar o Brasil. É muito interessante, e cada vez fico mais apaixonada por nosso país e nosso povo. Que bom estar de volta.
segunda-feira, 16 de junho de 2008
Tô chegando......
http://www.youtube.com/watch?v=A-NRPRoCwsI
Ser estrangeira é estar sempre faltando um pedaço... tô voltando
Tô voltando…. por um tempinho curto, mas tô voltando... Ai, que ansiedade! Foi tudo muito bom, foi tudo muito bem, mas realmente, nada melhor do que voltar para casa!!!!!!!!!!!!!!! Como estará tudo? e todos? É verdade que tenho tido notícias, mas às vezes dá aquele friozinho na barriga, um medo de que a sua ausência (no caso, minha), não tenha sido tão sentida ou doída assim, e aí, a gente fica com um sentimento de "desimportância"... É que a vida continua! e continuou para todos, para os demais que ali ficaram, e para mim inclusive, felizmente. De qualquer forma, é muito bom estar de volta.
Bueno, de repente me bateu a nostalgia. Ser estrangeira é também “estar sempre faltando um pedaço”, então é também inevitável a saudade por antecipação de outros daqui: de Urano, já citado nesse blog, de José Maria, meu professor de espanhol, e de Amaya, mãe de uma coleguinha do meu filho. Esses dois últimos são novidades pra vocês e merecem reverências especiais.
As minhas aulas de espanhol são não só uma oportunidade de aprender o idioma, mas também uma excelente maneira de descobrir mais sobre a Espanha, sobre os espanhóis, o mundo, a Amazônia (pasmem, meu professor sabe mais do que eu sobre o assunto! olhe que eu sei, viu! - tive que aprender, né?!), história, e tudo o mais de interessante, no presente - passado - ou futuro do indicativo, subjuntivo e em todas as formas gramaticais que tenho direito. As aulas são ótimas, a pessoa, maravilhosa, um amigo da família, já podemos dizer, motivo do nosso primeiro almoço com um “nativo”, preparado com todo o carinho por minha sogra quando estava por aqui. Tudo pode ser tema de aula e debate caloroso, ultimamente, regada a algumas xícaras de café que, a duras penas, finalmente consegui fazer a contento – depois de 4 meses, já era tempo, não?
Já Amaya...bem, sobre ela não há muito o que dizer, só sentir. O seu carinho, acolhimento, disponibilidade, interesse em nos conhecer e fazer-se conhecer... Quando vou deixar Iago na escola: ou me chama pra um café, ou me dá carona, ou me convida pra algum outro programa, e sempre se preocupa em saber como estou e se preciso de alguma coisa. Um anjo da guarda, não resta dúvidas. Uma figura boníssima, gentil, carinhosa e muito sensível. Desejo a ela tudo de bom, e à sua linda filha, muito fofinha, Elba.
Sentirei saudades deles... e assim, mesmo com a felicidade que me acompanha na expectativa da partida para o Mundo de lá, sinto uma tristeza pelo que deixo aqui. Apesar das dificuldades encontradas no princípio, posteriormente também encontrei carinho e acolhimento. Bem, deles só estarei distante um “mesinho”, já dos queridos que deixei no Brasil, bem mais tempo, por ora. Então, resta-me aproveitar a felicidade do reencontro com o Mundo de lá. E que o Mundo de cá me aguarde, espero eu, tão saudoso quanto eu o deixarei.
Madrid es infinita en nuestra imaginación y diminuta en nuestra realidad
Quando li a frase Madrid es infinita en nuestra imaginación y diminuta en nuestra realidad, escrita por Eduardo Verdú no primeiro mês da minha estada aqui, pensei: “- por quê? O que queria dizer realmente...?” Agora, após 4 meses, ela me parece cristalina e absolutamente verdadeira. Quando pensamos em Madri, sobretudo em morar aqui por um tempo, imaginamos poder aproveitar a noite madrileña, assistir a várias exposições, visitar a todos os museus, desfrutar das inúmeras opções culturais que, diga-se de passagem, existem para todos os gostos e tribos. Em tese, a cidade não pára! Bueno, parece, no entanto, que, seja para mim que sou estrangeira, ou para o escritor madrileño, a rotina se impõe de todas as formas. No caso dele, trabalho – casa – levar e pegar crianças na escola – dar atenção à esposa – aproveitar o domingo para descansar - ver um filme no cinema, e tudo o que quase todos nós, rélis mortais de classe média, fazemos, seja aqui, no Brasil ou na China. É verdade que uns vão à praia, outros ao parque, uns isso, outros aquilo... é verdade também que os estilos de vida são diferentes. Mas também é verdade que o cotidiano acaba por se impôr de tal forma que o glamour antes imaginado se esvai diante das necessidades da vida cotidiana. No entanto, não posso me queixar. Estamos muito bem instalados, fomos a várias peças de teatro, alguns museus, saímos algumas noites como los gatos madrileños, aprendemos muito desde o español à vida a la européa; li bastante, assisti a alguns eventos de marketing, conheci um pouco de Madrid para los niños - crianças - , fiz alguns poucos porém bons amigos..., enfim, aproveitamos bem!, dentro do possível. Mesmo assim, fica uma sensação de "quero mais" e uma lista enorme de interesses e objetivos ainda ñ alcançados. Talvez por isso tenha me identificado tanto com a descrição de Verdú. Vou passar um mês no Brasil e quem sabe na volta, uma vez mais adaptada, sabendo me comunicar melhor e conhecendo mais o que me espera aqui, Madri passe a ser mais próxima ao imaginado. Verdú talvez duvide, mas posso aproveitar mais, apesar da rotina que se impõe no nosso dia-a-dia. Há ainda muito a ser explorado e...bueno... amanhã hay de ser otro dia. Felizmente.
http://br.youtube.com/watch?v=WBwo5MzB7io
quinta-feira, 12 de junho de 2008
Somos campeões do Brasil
As fotos são antigas, mas tá valendo. Faz de conta que estou aí, comemorando com vocês!
Com o Sport
Eternamente estarei
Pois rubro-negras são
As cores que abracei
E o abraço, de tão forte,
Não tem separação
Pra mim, o meu Sport
É religião
A vida a gente vive
Pra vencer Sport, Sport
Uma razão para viver
Treze de Maio,
Mil novecentos e cinco
Dia divino em que Guilherme de Aquino
Reune, no Recife, ardentes seguidores
Fundando esta nação de vencedores
Que encanta, enobrece e dá prazer Sport, Sport
Uma razão para viver
Eterno símbolo de orgulho
É o pavilhão
De listras pretas e vermelhas,
Com o Leão Erguendo,
imponente, o imortal escudo
Mostrando à gente que o Sport é tudo
Que a vida tem de belo a oferecer
Sport, Sport Uma razão para viver
São gerações e corações
Fazendo a história
São campeões e emoções
Tercendo a glória
Do bravo Leão da Ilha, Sport obsessão
Que faz bater mais forte o coração
Torcida mais fiel não pode haver
Sport, Sport Uma razão para viver
Sport! Sport! Sport!
http://br.youtube.com/watch?v=OdiA91etbjM
http://br.youtube.com/watch?v=697NLEKfyks
Agradeço à Ceça a colaboração. Valeu, Cecita!!!!
Eita! No Brasil é dia...
Lá vem o sol
É impressionante como o sol é um convite às demonstrações públicas de afeto. Casais de namorados passeiam de mãos dados, expõem seus corpos pouco cobertos e aproveitam para se banharem nos lagos e fontes, presentes nas praças. Muitos se deitam nas gramas e ficam em estado de contemplação, sonolência, namoro, tudo como um ritual bem ensaiado de reverência ao “deus” sol, à natureza, e à vida em todo o seu deslumbre. Naquele solzão, me permiti ser menos estrangeira. Deitamos então na grama e aproveitamos o agradável e ensolarado dia.
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domingo, 8 de junho de 2008
Meu amigo, o violão
Quando disse pra Chico, meu antigo professor de violão, que viria para a Espanha, ele me disse: "leve seu grande amigo: o violão". Dito e feito. Não sabe ele que deixei meu amigo no canto, meio abandonado. Até que, há dois meses, num belo dia, indo a Moncloa resolver a papelada da minha futura Universidade, dei de cara com a "Casa do Brasil" e uma faixa: "clases de guitarra brasileña". Pensei, se ensinam guitarra e do tipo brasileira, devem ensinar violão e, com sorte, a tocar música brasileira. No meu parco espanhol, não sabia eu que era justamente isso que a faixa dizia: violão em español é guitarra, e ensinavam justamente a tocar música brasileira. E foi assim que conheci um outro amigo e professor brasileiro, há 30 anos vivendo em Madri, Urano Souza. Há dois meses que tenho classes com ele, mas meu violão normalmente só me faz companhia pouco antes das aulas e durante elas, motivo de uma bronca do meu professor ao observar claramente, pela agilidade dos meus dedos e a falta de calos nas mãos, que não tenho treinado como deveria. Depois das aulas, em geral, meu amigo, o violão, volta pro canto, e me observa blogar, fazer o serviço doméstico, ler, cuidar de Iago, estudar español e tudo o mais que me parece hoje mais urgente para a nossa adaptação aqui. Assim, apesar da proximidade, sinto saudades dele, mesmo aqui, do meu ladinho. Sou uma amiga ingrata e ausente. Meu violão me acompanha desde os meus 14 anos, quando o recebi de presente da minha mãe, exímia tocadora de teclado e minha maior incentivadora artística. Tem um som bonito e diferenciado, está meio velhinho, é verdade, começou a trastejar e necessita de cuidados especiais. Daqui a 15 dias, vou visitar a terrinha e ele me acompanhará de volta. Quem sabe será uma nova fase do nosso relacionamento, e voltamos a nos divertir juntos de novo. Não vejo a hora. Acho que ele também não.
"Certo dia encontrei-me com um amigo
que deixou-me contar minhas tristezas
Vendo nele ternura e sutilezas
Nos abraços que dele fiz abrigo
Mesmo hoje, depois de tantos anos
Nosso amor continua assim perene
Eu querendo que ele me envenene
E ele sendo o veneno dos meus planos
Amizade igual nunca encontrei
Pois às vezes que eu o pocurei
Estendeu o seu braço em minha mão
O amigo que falo não é gente
É divino e pra mim foi um presente
Que o tempo me deu, meu violão"
Do Poeta Zeto, de São José do Egito. Contribuição de Aloisio Arruda, outro grande amigo, que me mandou o cordel. A ele dou Gracias!
..........................................................................................Meu amigo e professor no Brasil,Chico
sexta-feira, 6 de junho de 2008
A esperança. Desta vez, o inseto. Ou quase.
"Aqui em casa pousou uma esperança. Não a clássica, que tantas vezes verifica-se ser ilusória, embora mesmo assim nos sustente sempre. Mas a outra, bem concreta e verde: o inseto.
Houve um grito abafado de um de meus filhos:
- Uma esperança! e na parede, bem em cima de sua cadeira! Emoção dele também que unia em uma só as duas esperanças, já tem idade para isso. Antes surpresa minha: esperança é coisa secreta e costuma pousar diretamente em mim, sem ninguém saber, e não acima de minha cabeça numa parede.
Pequeno rebuliço: mas era indubitável, lá estava ela, e mais magra e verde não poderia ser.
- Ela quase não tem corpo, queixei-me.
- Ela só tem alma, explicou meu filho
e, como filhos são uma surpresa para nós, descobri com surpresa que ele falava das duas esperanças.
Ela caminhava devagar sobre os fiapos das longas pernas, por entre os quadros da parede.
Três vezes tentou renitente uma saída entre dois quadros, três vezes teve que retroceder caminho. Custava a aprender.
- Ela é burrinha, comentou o menino.
- Sei disso, respondi um pouco trágica.
- Está agora procurando outro caminho, olhe, coitada, como ela hesita.
- Sei, é assim mesmo.
- Parece que esperança não tem olhos, mamãe, é guiada pelas antenas.
- Sei, continuei mais infeliz ainda.
Ali ficamos, não sei quanto tempo olhando. Vigiando-a como se vigiava na Grécia ou em Roma o começo de fogo do lar para que não se apagasse.
- Ela se esqueceu de que pode voar, mamãe, e pensa que só pode andar devagar assim. Andava mesmo devagar - estaria por acaso ferida? Ah não, senão de um modo ou de outro escorreria sangue, tem sido sempre assim comigo. Foi então que farejando o mundo que é comível, saiu de trás de um quadro uma aranha. Não uma aranha, mas me parecia "a" aranha. Andando pela sua teia invisível, parecia transladar-se maciamente no ar. Ela queria a esperança.
Mas nós também queríamos e, oh! Deus, queríamos menos que comê-la. Meu filho foi buscar a vassoura. Eu disse fracamente, confusa, sem saber se chegara infelizmente a hora certa de perder a esperança:
- É que não se mata aranha, me disseram que traz sorte...
- Mas ela vai esmigalhar a esperança! respondeu o menino com ferocidade.
- Preciso falar com a empregada para limpar atrás dos quadros - falei sentindo a frase deslocada e ouvindo o certo cansaço que havia na minha voz.
Depois devaneei um pouco de como eu seria sucinta e misteriosa com a empregada: eu lhe diria apenas: você faz o favor de facilitar o caminho da esperança.
O menino, morta a aranha, fez um trocadilho, com o inseto e a nossa esperança. Meu outro filho, que estava vendo televisão, ouviu e riu de prazer.
Não havia dúvida: a esperança pousara em casa, alma e corpo. Mas como é bonito o inseto: mais pousa que vive, é um esqueletinho verde, e tem uma forma tão delicada que isso explica por que eu, que gosto de pegar nas coisas, nunca tentei pegá-la. Uma vez, aliás, agora é que me lembro, uma esperança bem menor que esta, pousara no meu braço. Não senti nada, de tão leve que era, foi só visualmente que tomei consciência de sua presença. Encabulei com a delicadeza. Eu não mexia o braço e pensei: "e essa agora? que devo fazer?" Em verdade nada fiz. Fiquei extremamente quieta como se uma flor tivesse nascido em mim. Depois não me lembro mais o que aconteceu. "
Ah! Clarice... Sempre ela.
Lispector in "Felicidade Clandestina" - Ed. Rocco - Rio de Janeiro, 1998
Aos 82 anos, segues bela, elegante e desejável...
"Acabas de cumplir 82 años. Has encogido seis
centímetros, no pesas más de 45 kilos y sigues siendo bella, elegante y deseable. Hace 58 años que vivimos juntos y te amo más que nunca". Así comienza la maravillosa carta en forma de libro que el filósofo y periodista André Gorz escribe a su mujer, Dorine, pocos meses antes de que los dos apareciesen muertos en su casita de Vosnon, en Francia. No hubo dudas de que se trató de un suicidio compartido: ante la enfermedad terminal y los sufrimientos de ella, decidieron poner punto final a sus vidas.
Bueno, ao ler o romântico e quase Shakespeareano relato sobre André Gorz, a esperança pousou em minha casa. Não o inseto do conto de Clarice Lispector, mas a outra, aquela que nos enche de expectativa de que amanhã pode ser melhor do que hoje. É... Amanhã será melhor que hoje. Ainda existem alguns André Gorz entre nosotros...
E que este descanse em paz. Ele merece.
http://br.youtube.com/watch?v=VaoOK1MyGNE&feature=related
Soneto da fidelidade (Vinicius de Moraes)
De tudo, meu amor serei atento
Antes,
e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor ( que tive ) :
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.