quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O Curió de Juanito – Parte III - A preocupação

Imagem do Mediterrâneo, em Altea

Sei que o curió de Juanito vai "abafar" (ver os dois posts abaixo), mas honestamente, me preocupo em receber BEM meus amigos espanhóis em PE. Amo aquele Estado e tenho todo um “sentido de pertencimento” já falado por mim aqui no post1 e posts 2 e 3 , que quero compartilhar. Eu, com minha veia de marketing, tendo a "vender" tudo que amo, e a imagem que fiz do Recife por aqui é que é assim meio que... pertinho do paraíso. Agora, tenho que impressionar.

Resolvi encarar essa empreitada como se fosse um job, ou seja, um trabalho encomendado à uma agência, onde a primeira coisa a fazer é estudar o perfil do meu cliente e suas necessidades. Vamos lá: a galera daqui, ao menos, a que eu conheço: é super natureba; desportista; bebe "álcoolicas" rotineiramente, porém, pouco; odeia praia cheia, e é meio crítica que se coma em praia por questões ecológicas – só me lembro dos nossos ambulantes aos montes na praia de Boa Viagem –; não curte muito ruído (muito menos de todo tipo de música que toca nos carrinhos ambulantes que vendem CDs e DVDs piratex); está acostumada a andar a pé, sem preocupação; não suporta ar condicionado, Shopping ou qualquer um desses ícones modernosos ou consumistas; suam com qualquer calorzinho; não topam "comida pesada" no verão, época em que viajarão pra Pernambuco; enfim, quando penso em tudo isso, repenso totalmente o roteiro. Devemos ir para: Fernando de Noronha, praia dos Carneiros, Coroa do Avião, Recife Antigo, Maracaípe (no máximo, pois, honestamente, não creio que eles curtam o caos de Porto de Galinhas), o Alto da Sé em Olinda. A minha única despreocupação é que eles são pessoas encantadoras, e sei que valorizarão cada atenção ou carinho demonstrado, coisa abundante na nossa terrinha (calor humano é o que não falta).

Bueno, com todas essas preocupações para que saiam com "A" melhor impressão do Mundo de lá, ouço minha queridíssima amiga espanhola me dizer que, dentre outras coisas, quer conhecer uma...

favela. Pronto, e agora?! “Me lasquei”. Essa galera tem que ir e voltar sã e salva; e não menos importante: “BEM impressionada”.

"- Juanito, vai treinando o curió."

sábado, 22 de agosto de 2009

O Curió de Juanito – Parte II – A motivação

O Curió do flick.com
Tudo isto me pareceu curioso (ver Parte I, abaixo), mas a curiosidade principal que motivou estes posts se deveu a um casal recifense, muito amigo nosso, que veio, com sua doce filha, nos visitar recentemente em Madri. E daí vem a história de Juanito...

Apresentamos o casal de recifenses, Cyntia e Joãozito (chamado aqui carinhosamente de Juanito pelas crianças locais, pois nao sabiam pronunciar seu apodo, apelido brasileiro), a um outro casal de espanhóis muitíssimo amigo nosso. Uma ótima notícia é que estes espanhóis deverão ir conosco para o Brasil, em dezembro.

Bueno, nos divertimos muito juntos por aqui, além dos meus amigos terem sido maravilhosamente recebidos. Estamos todos muito pendientes e ansiosos por recebê-los bem em Recife, e mostrar um pouco da beleza do nosso Estado. Sem falar que Juanito é um personagem a parte, engraçadíssimo e bromista, piadista.

E o Curió com isso?! Vale, vale, estou me prolongando. Vamos lá... estou chegando...

Fomos todos para a casa dos nossos amigos espanhóis que fica em Altea, cidade litorânea, à beira do Mediterrâneo, lindíssima (ver post de abril deste ano), e, enquanto visitávamos o casco antiguo de Altea que é a parte histórica, Juanito expressou o que todos pensamos, mas não havíamos assumido até então: como impressioná-los em Recife, com tudo por aqui tão lindo e bem cuidado?! O mar Mediterrâneo, aquelas casas na montanha, aquela paisagem, enfim... Ele então saiu com esta pérola: “- Eu acho que eu vou apresentar a eles o curió de painho".

Quando me lembro da espontaneidade e da maneira como a frase foi dita, revelando uma total frustração em como encantá-los no Mundo de lá, mesclada com a imagem do curió versus daquela paisagem, me faz ter crise de risos até hoje.

É claro que apesar de ter muita coisa linda em Recife, o caos urbano, o modernismo ou pós-modernismo caótico que marca o crescimento das grandes cidades brasileiras, “poluem” a nossa linda paisagem, sem falar que, se compararmos do ponto de vista de infra-estrutura e cuidado com a coisa púbica, realmente contrasta muito das cidades espanholas. Enfim, o curió talvez seja realmente a nossa salvação.

E finalmente, da motivação à preocupação...

A volta da estrangeira e "O Curió de Juanito – Parte I – A definição"

Voltei ao Blog, e cheia de curiosidades. De repente, me vejo especialmente interessada pelos pássaros. Mais especialmente interessada ainda por um tipo curioso: o pássaro curió. Descobri que tem até uma sociedade amiga dos curiós no Brasil, SAC, que cuida da preservação desses pássaros, promove torneios de canto, e, segundo eles, já existem mais de 128 cantos catalogados, etc., etc. Existem curiós mestres de cantos e tudo o mais. Segundo o site, em Florianópolis, é um pássaro muito popular e já faz parte do folclore do lugar, é um animal de companhia de muitos de ali, inclusive já havendo um registro de patente de um tipo de canto do curió chamado de Canto Estilo Florianópolis, formado por notas graves e agudas.

No site, diz que ele é originário da America do Sul e Central, e parece haver sido abundante na fauna brasileira. Gostava sobretudo de “viver perto da aldeia dos índios” e o site diz que o nome ´“curió” em tupi guarani significa “amigo do homem”´. Também o classifica como um “pássaro elegante”, combativo, que gosta de disputar pelo “território”, e é conhecido pela “enorme qualidade do seu canto”. Tem desaparecido gradativamente e hoje é um animal que precisa ser preservado.

Bueno, mas você deve estar se perguntando por quê "danado" eu resolvi agora falar sobre o curió... Quem é Juanito?! O Que ele tem a ver com a história?!

Aguarde. Mañana te lo diré... "Inté."

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Escrever e as férias

Demorei a gostar de ler. E demorei mais ainda voltar a escrever. Quando criança, era metida à escritora. Dissertação escolar?! Era comigo mesma. As aulas de literatura?! Minhas preferidas. No vestibular, se é que isto quer dizer alguma coisa, “abafei” no tema.

Agora, tem sido a minha terapia. Passei, no entanto, um bom tempo "sem meter a mão na massa". Hoje, percebo tristemente que perdi um pouco o jeito. Gostava mais do que escrevia antes, seja pela minha menor capacidade crítica, seja por que... não sei... pode ser real. Embora, já há muito, percebo que isto não me levará longe, hoje, o principal tem sido “me livrar” do pensamento, escrevo e pronto!, me sinto bem – não sei por quanto tempo, todavía. Na verdade, muitas vezes, não sei o que dizer. Os recursos do youtube, que dão voz a artistas, escritores, músicos, são maravilhosos porque muitas vezes ouço uma música e penso: era o que eu queria dizer...! Por que não pensei nisso antes?! E aí... venho ao blog e publico.

Mas, voltando à história do início ... Refletindo bem, é curioso. Às vezes, a gente leva uma vida para aprender ou descobrir certas coisas. Visitando um museu de Madri com uns amigos, um deles me lembrou de uma frase de Picasso: “- Levei a vida inteira para aprender a pintar como criança.” Além de outra pérola dele: -"Eu não procuro, encontro."

Bueno, esse papo já tá qualquer coisa... mas, bem ou mal, às vezes penso: ´eu já fui uma versão melhor de mim mesma´. Crises existenciais... Afinal, nem só de sol de 40 grados se vive as férias madrileñas.

Sem título

terça-feira, 4 de agosto de 2009

A mulher de 30... e poucos

Aos 30, li "A Mulher de 30" de Balzac e adorei. Apesar de ser mais trágico do que eu imaginava, o livro tem uma capacidade ímpar de descrever "essa" mulher, seus desejos, necessidades e frustrações.

Recentemente, lendo Mario Prata, autor brasileiro que adoro, dei de cara com uma crônica dele de 5 anos atrás. Ele volta ao tema. Talvez pelos meus 36 recém-completados, tenho pensado muito na idade, e apesar de ser uma mulher bem diferente do estereótipo descrito por Mario Prata, para o bem e para o mal (?!), também adoro como ele descreve "essa" mulher. Vamos ao texto de Mario:

"O que mais as espanta é que,
de repente, elas
percebem que já são balzaquianas. Mas poucas balzacas leram
A Mulher de Trinta,
do Honoré de Balzac, escrito há mais de 150 anos. Olhe o
que ele diz:

“Uma mulher de trinta anos tem atrativos
irresistíveis. A
mulher jovem tem muitas ilusões, muita inexperiência. Uma
nos instrui, a outra
quer tudo aprender e acredita ter dito tudo despindo o
vestido. (...) Entre elas
duas há a distância incomensurável que vai do
previsto ao imprevisto, da força à
fraqueza. A mulher de trinta anos
satisfaz tudo, e a jovem, sob pena de não
sê-lo, nada pode satisfazer”.

Madame Bovary,
outra francesa trintona,
era tão maravilhosa que seu criador chegou a dizer
diante dos tribunais:
“Madame Bovary c’ést moi”. E a Marylin Monroe que fez tudo
aquilo entre 30 e 40?

Mas voltemos à nossa mulher de trinta, a
brasileira-tropicana,
aquela que podemos encontrar na frente das escolas pegando
os filhos ou num
balcão de bar bebendo um chope sozinha. Sim, a mulher de trinta
bebe. A mulher de trinta é morena. Quando resolve fazer a besteira de tingir os
cabelos de amarelo-hebe passam, automaticamente a terem 40. E o que mais
encanta nas de trinta é que parecem que nunca vão perder aquele jeitinho que
trouxeram dos 20. Mas, para isso, como elas se preocupam com a barriguinha.

A mulher de trinta está para se separar. Ou já se separou. São raras
as mulheres que passam por esta faixa sem terminar um casamento. Em
compensação, ainda antes dos quarenta elas arrumam o segundo e definitivo.

A grande maioria têm dois filhos. Geralmente um casal. As que ainda
não tiveram filhos se tornam um perigo, quando estão ali pelos 35. Periga
pegarem o primeiro quarentão que encontrarem pela frente. Elas querem casar.

Elas talvez não saibam, mas são as mais bonitas das mulheres. Acho
até que a idade mínima para concurso de miss deveria ser 30 anos. Desfilam
como gazelas, embora eu nunca tenha visto uma (gazela). Sorriem e nos olham
com uns olhos claros. Já notou que elas têm olhos claros? E as que usam uns
cabelos longos e ondulados e ficam a todo momento jogando as melenas para
trás? É de matar.

O problema com esta faixa de idade é achar uma que
não esteja terminando alguma tese ou TCC. E eu pergunto:
existe algo mais excitante do que uma médica de 32 anos, toda de branco, com o
estetoscópio balançando no decote do seu jaleco diante daqueles hirtos seios? E
mulher de trinta guiando jipe? Covardia.

A mulher de trinta ainda não fez plástica. Não precisa. Está com tudo em cima. Ela, ao contrário das de vinte, nunca ficaram. Quando resolvem vão pra valer. Fazem sexo como se fosse a última vez. A mulher de trinta morde, grita, sua como ninguém. Não finge. Mata o homem, tenha ele vinte ou 50. E o hálito, então? É fresco. E os pelinhos nas costas, lá pra baixo, que mais parecem pele de pêssego, como diria o Machado se referindo a Helena que, infelizmente, nunca chegou aos
30?

Mas o que mais me encanta nas mulheres de trinta é a independência. Moram sozinhas e suas casas tem ainda um frescor das de 20 e a maturidade das de 40. Adoram flores e um cachorrinho pequeno. Curtem janelas abertas. Elas sabem escolher um travesseiro. E amam quem querem, a hora que querem e onde querem. E o mais importante: do jeito que desejam.

São fortes as mulheres de trinta. E não têm pressa pra nada. Sabem
onde vão chegar. E sempre chegam.
Chegam lá atrás, no Balzac: “a mulher de trin
ta anos satisfaz tudo”."