segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Regressar é preciso



“Regressar é preciso.” – Me deparei com essa frase de Saramago na Revista de bordo da Cia. Aérea Tap, no meu regresso a Recife para as férias de fim de ano e, principalmente, para o nascimento da minha sobrinha. Tomei nota urgentemente, mas nada se revelaria mais inútil posto que desde que cheguei há uma semana, vez ou outra, lembro-me dessas palavras sem precisar recorrer ao lembrete. “Como tudo as palavras têm os seus quês, os seus comos e os seus porquês. Algumas solenes, interpelam-nos com ar pomposo, dando-se importância, como se estivessem destinadas a grandes coisas, e vai-se ver, não eram mais que uma brisa leve que não conseguiria ver uma vela de moinho, outras, das comuns, das habituais, das de todos os dias, viriam a ter, afinal, conseqüências que ninguém se atreveria a prever, não tinham nascido para isso, e contudo abalaram o mundo” (Saramago, in Caim, 2009, pg. 52). Pois bem, parafraseando Fernando Pessoa quando disse “Navegar é preciso”, sem entrar no mérito polêmico se acaso a palavra “preciso” em questão queria dizer “necessidade” ou “precisão”, Saramago fala do regresso a Lisboa como se essa volta às raízes fosse fundamental para energizar-se e seguir adiante. Ele, que decidiu como ato de protesto exilar-se em Lanzarote/Espanha, depois de toda a polêmica portuguesa gerada pelo livro “Evangelho Segundo Jesus Cristo” – Portugal, mesmo sendo um país laico, vetou a apresentação do romance ao Prêmio Literário Europeu alegando que a obra “ofende aos católicos”. Pois bem, voltando ao meu simples regresso, bem menos poético e pomposo, repito com todas as letras em português, espanhol, portunhol... a paráfrase de Saramago: regressar é preciso, “regresar” é preciso, volver é preciso, voltar é preciso, retornar é preciso. Ainda que dessa vez não seja a “de vez”, é preciso.

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