quarta-feira, 28 de maio de 2008

A linguagem

Numa revisteria perto de casa, um sábado à noite:
- Por favor, o El País de domingo?
- Como como?
- Repito
- Mas como? Hoje é sábado, não sabias?
- Sim, mas não tens também o jornal de domingo ?
- Claro que não!!!!! Sábado é sábado, domingo é domingo, só amanhã.
Quase que eu dizia: é que no Brasil a gente prevê o futuro, não sabia? Assim, a gente pode comprar um dia antes, etc, etc, mas faltou espirituosidade e sobretudo español para tanto.

No metrô:
Eu já estava muito bem acomodada, ouvindo tocar Garota de Ipanema, extasiada com a música, totalmente lisa - a essas alturas a última moeda já tinha ido parar no chapéu do excelente instrumentista - , sentadinha no meu lugar. De repente, uma senhora atrasada, chega apressadamente como quem, por pouco, não perdera o trem. Olhei para ela, imaginei-a cansada e de maior, como dizem aqui. Levantei-me e ofereci meu assento. Ela, que não entendeu as palavras, compreendeu o gesto, respondeu com cara amuada: - Não, não sou tão velha assim. – Voltei para o meu assento, e já estava amarela sem saber se aqui não é hábito oferecer assento a pessoas idosas, enfim. Depois disso, já presenciei outras cenas do tipo e foi absolutamente natural o aceite, essa senhora sem dúvida estava passando por alguma crise de meia idade, e a vítima foi a pobre da estrangeira.

Outro dia, na escola de Iago:
- Necesitamos de una cita despacio.
E eu, que já não era besta nem nada, fiquei na minha, mas estava tentando descobrir de que espaço ela estava falando. Assim, escrito, é fácil, no entanto, vai ouvir!!! Me ocorreu o espaço sideral, mas o "Mundo de cá" pode estar à frente do nosso de lá em algumas coisas, mas não ainda a esse ponto, reuniões espaciais para se falar sobre crianças?! Conversando com meu professor de espanhol, ele disse que era óbvio que eu tinha entendido errado e que possivelmente ela queria dizer despacio, ou seja, mais demoradamente, uma conversa com mais tempo. Fiquei mais tranqüila com a descoberta e principalmente por ter pago o mico reservadamente.

Ainda em outro momento, comprando churros:
- Tiene coca?
- No, no tengo cocaína!, pero tengo coca-cola, si quieres...
Desta vez, era óbvio que o distinto cavalheiro queria soltar apenas uma gracinha, mas estrangeiro que é estrangeiro é meio sensível, com esses deslizes vivenciados quase diariamente.

Eita, que "nóis" sofre. Pense! Estudei minha vida toda inglês para não passar por isso. Fazer o quê? Só... rindo!

7 comentários:

Unknown disse...

Só um detalhe: não é em todo o Brasil que o jornal de domingo é distribuído no sábado. Pelo menos aqui em Brasília e no Rio a distribuição ocorre no dia certo: no domingo. Os jornais de Pernambuco resolveram copiar o modelo de distribuição dos de São Paulo: a Folha e o Estadão de domingo também saem no sábado. Mas não é regra em todo o país. Como pode ver, por essas e outras, podemos ser estrangeiros em nosso próprio país.

(A estrangeira) Cristina Alcântara disse...

Pô, que fora! Assim, sou cidadã do mundo, nem do de cá, nem do de lá. Ninguém merece.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Que fora que nada! Antes de ser brasileira, vc é pernambucana. Natural que seu parâmetro seja a terrinha. Quando o povo daqui me chama de bairrista, só para provocar,digo que não sou bairrista. Sou, na verdade, nacionalista, da nação Pernambuco, que a fórceps foi integrada ao Brasil, pois para isso tiveram que esfacelar todo o nosso território, primeiro dando autonomia para as nosssa ex-províncias anexas (Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba) e depois extirpando as áreas que hoje formam o estado de Alagoas e a parte ocidental da Bahia, esta equivalente a toda a margem esquerda do São Franscico. Após quase cinqüenta anos de guerra (revolta dos suassuna, revolução de 1817, confederação do equador, praieira,...), de quase um século de expropriação fiscal e de terem legado ao nosso povo uma dominação política oligárquica e coronelista, as elites políticas e econômicas do país conseguiram convencer (ou obrigar) Pernambuco a ser parte do Brasil. Mas se encherem muito meu saco, já que está na moda, posso fundar o movimento separatista e de restauração da nação Pernambuco. A paulistada, que é quem manda nisso aqui, fica puta.

(A estrangeira) Cristina Alcântara disse...

Só... rindo, de novo!
Grande beijo, querido.

Christianne Alcântara disse...

Quem disse que blog também não é cultura?????

Anônimo disse...

uhsuahsuhasuhauhsauhsuahsuahsuahushauhs,a coisa da coca foi engraçada Tia,desculpe
huhuhuhuhuh
beeijos!:*