terça-feira, 3 de junho de 2008

O marco zero de Madri





Adoro ir a Puerta del Sol, o “marco zero de Madri”, por assim dizer. É uma das regiões mais antigas da cidade; um lugar maravilhoso, onde há vida quase todas as horas do dia e da noite. Conta-se que por volta do século XVI, havia uma grande muralha com um portal que delimitava a cidade, e que havia um sol que adornava a entrada, por isto, esse nome. É também aí que se pode observar uma estátua com o símbolo da cidade, El Oso y El Madroño: o urso e o Madroño, este último nomeia uma árvore típica da Península Ibérica, encontrada abundantemente em Madri. O urso, por sua vez, é um símbolo da cidade, pois a região era habitada por muitos ursos no passado, chamada pelos romanos de zona Ursária. O culto à natureza é bem representativo daqui e bastante apropriado, pois Madri é cheia de parques, espaços públicos floridos e bem cuidados, a cidade é um convite a passeios e longas caminhadas. Portanto, sapatos confortáveis, um bom mapa e uma câmera fotográfica na mão são indispensáveis - sempre amei usar salto, mas aqui os tênis são minha melhor companhia. Voltando, é também na Puerta del Sol que encontra-se um outro monumento imponente, Carlos III em seu cavalo. Más adelante, dá-se de cara com a Plaza Mayor e outro monumento, este representando Felipe III, e foi ali fixado no século XIX. No passado, a Plaza Mayor era circundada por mercados e foi palco de numerosos atos públicos, como corridas de touros, autos de fé, execuções, e, por fim, a santificação de San Isidro, patrono de Madri e santo protetor dos agricultores de todo o mundo. Hoje, a Plaza Mayor, como toda a Puerta del Sol, é um grande centro de entretenimento, com bares, restaurantes, lojas, muitos artistas e seus mais variados “espetáculos” de rua, muita gente andando de lá para cá, indo de copas, como dizem aqui. Ir de copas, nada mais é do que sair de bar em bar, por isso mesmo, os madrileños são chamados de gatos – notívagos e inquietos. Bueno, creio que esse é o ponto zero, o ponto de partida pra conhecer Madri. Daí, da Puerta del Sol, você pode estender seus raios pela cidade; uma cidade histórica, ensolarada e cheia de atrativos.

2 comentários:

Unknown disse...

Foi muito legal observar em Madrid essa característica muito particular do traçado urbano da região de Castela (que teria se disseminado, segundo Sérgio Buarque, pelas regiões de colonização hispânica do lado de cá do Atlântico). Diferente do artificialismo da cidade-jardim de Londres, e que foi porcamente imitada pela elite cafeeira de São Paulo, e do autoritarismo, mas não sem méritos, do urbanismo hausmaniano de Paris, Madrid parece ter conseguido definir um traçado urbano que convida ao passeio em plenos séculos XVI e XVII. Quando estive aí, lembrei da perfeita descrição de Sérgio Buarque para o paradigma espanhol (nem sei se espanhol, mas pelo menos castelhano, pois a Catalunha é outra coisa e imagino que a Andaluzia também) de cidade: “A construção da cidade começaria sempre pela praça maior. (...) A forma da praça seria um quadrilátero, cuja largura correspondesse pelo menos a dois terços do comprimento, de modo que, em dias de festa, nelas pudessem correr cavalos. (...) A praça servia de base para o traçado das ruas: as quatro principais sairiam do centro de cada face da praça. De cada ângulo sairiam mais duas , havendo o cuidado de que os quatro ângulos olhassem para os quatro ventos. (...) Assim, a povoação partia nitidamente de um centro; as duas linhas traçadas de norte a sul e de leste a oeste serviam como referência para o plano futuro da rede urbana”. É curioso o quanto o mapa do centro expandido de Madrid lembra mesmo o formato de um quadrilátero quase hexagonal. As ruas vão saindo de umas plazas e vão ao encontro de outras plazas em ângulos retos ou em diagonal. Bem diferente das nossas cidades. Sérgio Buarque escreveu esse trecho para mostrar as diferenças entre o padrão de colonização espanhol e o português, cujas cidades eram construídas em áreas elevadas, voltadas para o mar, deixando-se modelar pela sinuosidade da topografia. Olinda, o Pelourinho e Outro Preto são exemplos disso. As grandes cidades brasileiras que passaram por intervenção urbana à moda francesa ou à inglesa, como Rio, perderam essa característica. Mas esse padrão aparentemente caótico das cidades portuguesas, de forte influência árabe/mediterrânea, é tão forte na nossa cultura que o as populações mais pobres acabam repetindo-o na forma como vão ocupando as áreas de favela. O centro de Recife é que acaba sendo uma exceção a todo o resto. É curioso comparar o traçado de Recife, mesmo com todas as intervenções urbanas do último século, com Olinda. Olinda é uma cidade colonial portuguesa típica. Já o centro de Recife não nega ter sido fundada por holandeses, com seus rios canalizados, aterros e pontes que remontam do século XVI. Acho que Recife nunca seria o que é hoje se os holandeses não tivessem ocupado a área. Portugueses não gostavam de charcos e alagados e provavelmente não teriam o menor interesse por aquelas ilhas. Certamente, Olinda seria o grande centro, a capital do estado. Recife poderia até ser uma cidade, mas formada basicamente por favelas e áreas de ocupação desordenada, como as cidades da Baixada Fluminense. Nenhuma crítica aos portugueses, pois nada impediu que as duas cidades, Olinda e Recife, acabassem se transformando em cidades degradadas e problemáticas e provavelmente não deixariam de ter o mesmo destino se os colonizadores fossem outros. Mas Recife poderia ter sido muito pior por uma simples contingência histórica. Hoje, pelo menos, ambas as cidades ainda conservam um pouco dos seus dias de glória, cada uma com sua particularidade. O fato é que Madrid é mesmo uma cidade fascinante para quem gosta de andar, beber, petiscar e viver a noite. A cidade convida a gente para isso. É bem capaz de você mudar completamente seus hábitos e acabar não se acostumando com o ritmo lusitano de Recife. No final, vc vai voltar pra terrinha, achar um saco e decidir viver em Buenos Aires, mais noturna e agitada.  Pra terminar, pois me alonguei demais num simples comentário, seguem umas musiquinhas bem cafonas, mas deliciosas, bem ao gosto do povo daí.
http://www.youtube.com/watch?v=T4nymCJx46U&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=gXUXl-o2KbA
http://www.youtube.com/watch?v=6eTUOlKlk-g&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=SLxrrE6wC5I
http://www.youtube.com/watch?v=25ckdkg1xCw
http://www.youtube.com/watch?v=yBHuqvEw7FE
Aliás, um dia, se você achar um disco chamado “La Leyenda del Tiempo” de Camaron de la Isla, pode comprar pra mim. Ah, e também “Fantasía flamenca" e"Interpreta a Manuel de Falla" de Paco de Lucia. E, por falar em Paco de Lucia, pode comprar também os discos dele com Al di Meola: "Friday Night in San Francisco" e "Passion, Grace and Fire". Procuro esses discos há anos, mas não achei nem aí na Espanha. Quem sabe se você, nas suas andanças, não acha. 

(A estrangeira) Cristina Alcântara disse...

Sobre os discos, pode deixar, vou procurar. Sobre as músicas, cafonas ou nao, vou apreciar. Sobre todo o resto, muito bom saber. Sobre se alongar nos comentários, faça-o sempre que quiser, é muito bom ler!