"A comunidade dos justos é estrangeira na terra, ela viaja e vive de fé no exílio e na mortalidade" (Sérgio Buarque de Holanda).
terça-feira, 13 de outubro de 2009
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Día de La Hispanidad e das Crianças
Próximo 12 de outubro também é feriado por aqui. É feriado nacional. Digo "também" porque, pra quem não sabe, no Brasil é dia das crianças e de Nsa. Sra. Aparecida (na verdade, não sei qual dos "dois" é o responsável pelo feriado brasileiro). Bom, pelas bandas de cá, é o Día de La Hispanidad, dia em que se homenagea os povos hispânicos, a descoberta da América e a grande comunidade hispânica espalhada pelo mundo. Outros países da América, de língua e colonização espanhola comemoram também, porém, nem sempre na mesma data.
Madri me lembra bastante São Paulo nos feriados, meio vazia, quase todos viajam. Enquanto faz ainda um bom tempo em pleno outono espanhol, a aposta ainda é ir para o litoral na esperança de aproveitar um resquício do recente e saudoso verão.
Ano passado, meu marido, filho e alguns amigos brasileiros que estavam de visita por Madrid justo nesta mesma época deram de cara com um trio elétrico em pleno Passeio do Prado com nada mais nada menos do que Daniella Mercury - não sei muito bem o que tem a ver Daniella com o Día de la Hispanidad, pero bueno... E meu filho que está mais estrangeiro do que nunca - o que me preocupa - gritava tapando os ouvidos: "- Carnaval, nãããããooooooooooooo!" Tadinho, ainda não sabe o que é bom (falo sobre o carnaval, claro). O bom mesmo para ele é que tem dois dias das crianças pra comemorar, e já cobrou o seu presente. Vou pedir a Nsa. Sra Aparecida pra ver se ela dá uma forcinha.
Bom, que tenham todos um bom feriado!, seja rezando a Nsa. Sra Aparecida, seja comemorando com as crianças o seu dia, ou ouvindo o Rei de Espanha fazer seu pronunciamento nacional (deve haver, afinal). Euzinha me mando pra praia, que é e sempre será para mim o paraíso aqui na terra, com ou sem feriado, no mundo de cá ou de lá.
Madri me lembra bastante São Paulo nos feriados, meio vazia, quase todos viajam. Enquanto faz ainda um bom tempo em pleno outono espanhol, a aposta ainda é ir para o litoral na esperança de aproveitar um resquício do recente e saudoso verão.
Ano passado, meu marido, filho e alguns amigos brasileiros que estavam de visita por Madrid justo nesta mesma época deram de cara com um trio elétrico em pleno Passeio do Prado com nada mais nada menos do que Daniella Mercury - não sei muito bem o que tem a ver Daniella com o Día de la Hispanidad, pero bueno... E meu filho que está mais estrangeiro do que nunca - o que me preocupa - gritava tapando os ouvidos: "- Carnaval, nãããããooooooooooooo!" Tadinho, ainda não sabe o que é bom (falo sobre o carnaval, claro). O bom mesmo para ele é que tem dois dias das crianças pra comemorar, e já cobrou o seu presente. Vou pedir a Nsa. Sra Aparecida pra ver se ela dá uma forcinha.
Bom, que tenham todos um bom feriado!, seja rezando a Nsa. Sra Aparecida, seja comemorando com as crianças o seu dia, ou ouvindo o Rei de Espanha fazer seu pronunciamento nacional (deve haver, afinal). Euzinha me mando pra praia, que é e sempre será para mim o paraíso aqui na terra, com ou sem feriado, no mundo de cá ou de lá.
É o Rio, por Tony Bellotto
Rio!!!
sexta-feira, 2 de outubro de 2009, 14:29
Por Tony Bellotto
sexta-feira, 2 de outubro de 2009, 14:29
"Minha sogra sempre fala do silêncio no Maracanã na final da Copa de 1950, depois que perdemos o jogo para o Uruguai. Mesmo quem não estava lá, ou quem ainda nem tinha nascido, conhece aquele silêncio. Faz parte de nosso DNA. É um tijolo importante na construção da nossa identidade cultural. Se o Brasil estava na época preparado ou não para realizar uma Copa eu não sei. Mas a poesia e a tristeza daquele silêncio permanecem como a inauguração de alguma coisa difusa, porém fundamental para nós, brasileiros.
Imagens do Rio povoam a mente de qualquer brasileiro. Seja num cartão postal, num calendário ou numa cena de novela. Algumas imagens eu não vou esquecer nunca: a noite em que os Titãs abriram o show dos Rolling Stones, eu em cima do palco, o coração saindo pela boca, vislumbrando aquele formigueiro sem fim, mais de um milhão de pessoas na praia de Copacabana. E o que mais me impressionou: o número de barcos ancorados na baía, uma verdadeira favela iluminada em que barracos se transformaram em barcos. E os Stones, intrigados: um milhão de pessoas e nenhum incidente grave, nenhuma rebelião, nenhum pisoteamento?
Para os cariocas nada demais, todos os revéillons na praia são assim, brother. Como é que um negócio desses pode dar certo? Numa das cidades mais violentas do mundo? Ninguém jamais saberá explicar. Ou entender. A insustentável leveza do ser carioca. A cidade em que o aeroporto leva o nome de um compositor de música popular. Aqui estão o bom-humor, a corrupção, a alegria, as balas perdidas e as licenças poéticas.
Das velhinhas de cabelo azul passeando por Copacabana aos gringos em safári pela favela, dos flanelinhas banguelas guardando carros na Barra às madames botocadas saindo do Gero, dos sambistas sorridentes da velha guarda aos clubbers doidões, virados de ecstasy, dos fotógrafos de celebridades aos bebês chorões, brincando na areia, dos pitboys lutadores de jiu-jitsu aos casais gays abraçados na Farme de Amoedo, ninguém se preocupará em entender. Ou explicar.
Continuam as imagens na minha cabeça: a ECO 92, Jello Biafra passeando despercebido pelos stands ecológicos. Não é o cara do Dead Kennedys? Rubem Fonseca caminhando pelo Leblon, finjo que não vejo pra não encher o saco do Mestre. Não é a Juliana Paes? Onde? Ali! Os arrastões na praia, o abraço na Lagoa.
Meu filho de catorze anos foi assaltado pela primeira vez na semana passada. Não liga, João, é assim mesmo. Ser assaltado, nessa cidade, é como participar de um rito de passagem. Como uma primeira comunhão, ou um bar mitzvah. Como sair numa escola de samba, ou comer biscoito de polvilho Globo na praia de Ipanema num domingo de sol. Ou assistir a um Fla Flu no Maracanã. Ver uma peça de Nelson Rodrigues, adentrar um prédio projetado por Oscar Niemeyer.
A cidade vai penetrando a gente, mineiros, paulistas, franceses, marcianos, e não desgruda mais. Rock in Rio em Lisboa. Na boa. O Brasil como ele é. Ronald Biggs, lembram dele? O mais carioca dos ingleses, a prova viva de que aqui até o crime compensa. Ex-terroristas, generais de pijama, maconheiros e padres surfistas, crianças cheirando cola, empresários contando grana, ninguém jamais poderá explicar. Ou entender.
Meca de todos os grandes golpistas no cinema e na vida real, ex-capital da colônia, ex-capital do Império Lusitano durante as guerras napoleônicas, ex-capital do Império do Brasil, ex-capital da República, perene cidade maravilhosa, terra da beleza e do caos, o paraíso depois que Adão e Eva foram expulsos, mas ainda sob as bênçãos sólidas de um barbudo concreto com braços permanentemente abertos. As contradições desabando sobre nossas cabeças como pedras numa avalanche. Eu explico: as cidades, como as mulheres, não precisam ser entendidas, precisam ser amadas. O barulho que escuto agora vindo da rua – buzinas, gritos, rojões – contrasta com o silêncio do Maracanã em 1950. Mas confirma que vivemos novamente a inauguração de alguma coisa difusa, porém fundamental para nós, brasileiros. A mim, resta conjugar na primeira pessoa do singular do presente do indicativo o verbo que expressa a alegria: Rio!!!"
Por Tony Bellotto
sábado, 3 de outubro de 2009
Rio 2016, Lula e a estrangeira
Foto: Elpais (link no título)
Votei em Lula 4 vezes para presidente. Me decepcionei com muitas coisas, me orgulho de muitas outras. Uma delas é a de mostrar internacionalmente a face mais Real do povo brasileiro, a face simples, alegre, inteligente, criativa, popular, e emotiva que o europeu não está habituado. Um brilho nos olhos e uma espontaneidade estranhada por muitos, que se perguntam: de onde vem essa cara de felicidade, demonstrada em tantas ocasiões independente da vitória olímpica?! Em poucos países se expressa tão facilmente as emoções como no Brasil, se fala tão abertamente, para o bem e para o mal, sobre quem somos, o que queremos e acreditamos. Hoje, essa face está estampada em todos os jornais do mundo. Chorei com Lula várias vezes durante e depois da tão sonhada vitória brasileira. Honestamente, fiquei muito feliz de ver os momentos finais da apuração dos votos com a minha melhor amiga espanhola. E dizíamos uma a outra como foi fenomenal que os dois países mais queridos por nós tenham ficado para a final (no caso dela, inclui o Brasil por tabela, pois o conhece pelos meus olhos). Antes de qualquer resultado, prometemos que, houvesse o que houvesse, estaríamos ali, em Madrid ou Rio, em 2016. Um pacto de amizade e de promessa de reencontro, pois imagino que em 2016 já não estarei mais em terras espanholas. Voltarei pro meu Brasil brasileiro, meu mulato estrangeiro, contente pelas amizades conquistadas, um pouco espanhola, é verdade, e com um sorriso no rosto de haver podido contemplar de perto que o nosso país finalmente está começando a ser mais respeitado e valorizado como merece.
Explode coração, na maior felicidade
Essa vitória é brasileira, mas é especialmente uma vitória carioca. O Rio, "cidade maravilha, purgatório da beleza e do caos" merece essa vitória. Ela sempre foi o cartão postal do Brasil, e um dos nossos grandes orgulhos nacionais, apesar dos pesares. Hoje, não tenho palavras pra expressar minha emoção e felicidade. É lindo ver nosso povo gritar de alegria e esperança. Me uno aos de lá, aos de cá, aos de acolá, nessa alegria. Hoje, além de recifense, sou muito, mas muito, muito mesmo: carioca!!!!!
sábado, 26 de setembro de 2009
Estrangeirice. Ser estrangeiro é...
A estrangeirice de um amigo:
"O sentimento de não pertencimento independe dos objetos, da casa, do celular. Vem de outro lugar, daquele velho sentido da dialética de que um homem nunca mergulha duas vezes no mesmo rio. O triste é que no fim o sentimento é o de ser de lugar nenhum. Bate uma solidão...
Mas o bom é saber que é sempre possível voltar para o lugar de onde a gente veio de alma aberta. Quando isso acontecer, a sensação de estrangeirice logo passará, pois a identidade original é sempre mais forte do que as outras identidades que a gente pensa que vai agregando ao longo da vida. Apesar de todo o debate em torno da multiplicidade de personas que adquirimos ao longo da vida, justamente em função desse desencaixe, sempre acho que há algo de muito primário que nos fixa emocionalmente a um lugar. E é sempre pra ele que a gente deseja voltar nos momentos bons e ruins."
A estrangeirice de uma amiga:
"Ainda lembro da 1ª vez que fui de férias ao Brasil, depois de 1 ano e meio fora. Quando cheguei, me sentia perdida, como se tudo aquilo não fizesse mais parte de mim; lembro de como foi angustiante os 3 primeiros dias (...)entre idas e vindas já deu "mais ou menos" pra aceitar a idéia de que neste momento "este" é o meu mundo."
A estrangeirice de Mario Vargas Llosa, ou melhor, de "Ricardito", no livro "Travessuras da menina má", p. 125, 126:
"(...) Talvez porque sua solidão era parecida com a minha, embora fôssemos diferentes em muitas outras coisas. Ambos tínhamos decidido nunca voltaríamos a viver nos nossos países, pois tanto eu, no Peru, como ele, na Turquia, certamente nos sentiríamos mais estrangeiros que na França, onde, no entanto, também nos sentíamos forasteiros. E estávamos cientes de que jamais iríamos nos integrar no país que escolhemos para morar e que até nos concedeu um passaporte. ´- Não é culpa da França se nós dois continuamos sendo estrangeiros, querido. A culpa é nossa. Uma vocação, um destino (...)de estar sem estar, de ser mas não ser´".
"O sentimento de não pertencimento independe dos objetos, da casa, do celular. Vem de outro lugar, daquele velho sentido da dialética de que um homem nunca mergulha duas vezes no mesmo rio. O triste é que no fim o sentimento é o de ser de lugar nenhum. Bate uma solidão...
Mas o bom é saber que é sempre possível voltar para o lugar de onde a gente veio de alma aberta. Quando isso acontecer, a sensação de estrangeirice logo passará, pois a identidade original é sempre mais forte do que as outras identidades que a gente pensa que vai agregando ao longo da vida. Apesar de todo o debate em torno da multiplicidade de personas que adquirimos ao longo da vida, justamente em função desse desencaixe, sempre acho que há algo de muito primário que nos fixa emocionalmente a um lugar. E é sempre pra ele que a gente deseja voltar nos momentos bons e ruins."
A estrangeirice de uma amiga:
"Ainda lembro da 1ª vez que fui de férias ao Brasil, depois de 1 ano e meio fora. Quando cheguei, me sentia perdida, como se tudo aquilo não fizesse mais parte de mim; lembro de como foi angustiante os 3 primeiros dias (...)entre idas e vindas já deu "mais ou menos" pra aceitar a idéia de que neste momento "este" é o meu mundo."
A estrangeirice de Mario Vargas Llosa, ou melhor, de "Ricardito", no livro "Travessuras da menina má", p. 125, 126:
"(...) Talvez porque sua solidão era parecida com a minha, embora fôssemos diferentes em muitas outras coisas. Ambos tínhamos decidido nunca voltaríamos a viver nos nossos países, pois tanto eu, no Peru, como ele, na Turquia, certamente nos sentiríamos mais estrangeiros que na França, onde, no entanto, também nos sentíamos forasteiros. E estávamos cientes de que jamais iríamos nos integrar no país que escolhemos para morar e que até nos concedeu um passaporte. ´- Não é culpa da França se nós dois continuamos sendo estrangeiros, querido. A culpa é nossa. Uma vocação, um destino (...)de estar sem estar, de ser mas não ser´".
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
A Ausência que não é Falta
“Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.!“
Carlos Drummond de Andrade
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.!“
Carlos Drummond de Andrade
domingo, 20 de setembro de 2009
La Noche en Blanco 2009 e A Banda
Fomos a la noche en blanco madrilenha, ontem-hoje. Como sempre, me encanta! Muita gente na rua, de todas as tribos e crenças e idades. Ruas fechadas para os carros, metrôs funcionando até às 3 da manhã, programações de todo tipo. Tudo aberto, museus, salas especiais, Palácio Real, Bellas Artes, etc., e principalmente salas que em geral são fechadas ao público, tudo gratuito. Pena que, por ser apenas por uma noite, as filas são enormes. O mais inusitado da noite (foi muito engraçado ver), bandinhas de rua - essas bandas marciais que passeavam pelas cidades do interior brasileiro (quem viveu, se lembrará seguramente) e que ainda tocam em 7 de Setembro -, tocaram toda a noite pelas ruas de Madrid, seguidas por muitos, inclusive por nós por um curto percurso. Bateu a culpa por não ter levado meu filhote, que teria adorado!
Próximo aos museus, por sua vez, no Paseo del Prado, bailarinos ensinavam passos de dança através de um grande telão, desde street-dancing a ballet. A galera imitando na rua... foi uma onda. Em outros pontos, cine espanhol foram exibidos pelas ruas. Nos teatros, leituras de poemas e outras cositas más. No Barrio de las Letras, aonde costumavam ir Garcia Lorca, Lope de Vega, Cervantes, Calderón de la Barca e tantos outros nomes, desenhistas ouviam as histórias dos "callejeros" (pessoas que andam pelas ruas, ou seja, qualquer um de nós), como psicólogos de rua, e em troca faziam um desenho personalizado que pudesse representar um pouco da conversa. Os bares, movimentados, uma festa. A temperatura amena, porém, sem muito frio... Enfim... mesmo que a cidade não estivesse tão bonita como no ano passado, e o astral, idem, valeu a pena.
Só pela nostalgia que bateu devido às bandas que animaram Madrid en La Noche en Blanco, segue "A Banda", de Chico, Festival de 1966. Imperdível.
Próximo aos museus, por sua vez, no Paseo del Prado, bailarinos ensinavam passos de dança através de um grande telão, desde street-dancing a ballet. A galera imitando na rua... foi uma onda. Em outros pontos, cine espanhol foram exibidos pelas ruas. Nos teatros, leituras de poemas e outras cositas más. No Barrio de las Letras, aonde costumavam ir Garcia Lorca, Lope de Vega, Cervantes, Calderón de la Barca e tantos outros nomes, desenhistas ouviam as histórias dos "callejeros" (pessoas que andam pelas ruas, ou seja, qualquer um de nós), como psicólogos de rua, e em troca faziam um desenho personalizado que pudesse representar um pouco da conversa. Os bares, movimentados, uma festa. A temperatura amena, porém, sem muito frio... Enfim... mesmo que a cidade não estivesse tão bonita como no ano passado, e o astral, idem, valeu a pena.
Só pela nostalgia que bateu devido às bandas que animaram Madrid en La Noche en Blanco, segue "A Banda", de Chico, Festival de 1966. Imperdível.
terça-feira, 15 de setembro de 2009
Patrick Swayze morre de câncer
Nunca fui uma grande fã de Patrick Swayze, apesar de que gostava muito de vê-lo dançar. Entre os seus principais sucessos como "Dirty Dancing" y "Ghost", prefiro "Priscila, uma Rainha do Deserto". No entanto, poucas coisas são mais difíceis de se aceitar do que uma morte prematura. Na verdade, prematura ou não, a morte é bastante difícil de se aceitar seja em que idade for, pelo menos para a maioria dos ocidentais, público em que me incluo. Quando ela é precedida de uma doença terminal parece ainda mais assustadora.
No entanto, o médico-psiquiatra David Servan-Schreiber (que descubriu um tumor no cérebro aos 32 anos, e superou todas as estatísticas de sobrevivência apresentadas em seu caso), escreveu em seu excelente livro "Anticâncer: Prevenir e vencer usando nossas defesas naturais", p. 217, uma passagem que gosto particularmente, dentre outras tantas:
"Ouve-se freqüentemente dizer de uma pessoa fulminada por um infarto inesperado que ele teve uma "bela morte". Contudo, é um fim que nos priva de toda possibilidade de preparação, de troca, de transmissão, bem como de uma ocasião para dar um fecho às relações incompletas. Não é a que desejo para mim. Hoje, a palavra "câncer" não é mais sinônimo de morte. Mas ela evoca sua sombra. Para muitos pacientes, como foi para mim, essa sombra é a oportunidade de refletir sobre a própria vida, sobre o que se quer fazer dela. é a oportunidade para começar a viver de maneira a poder olhar pra trás, no dia de nossa morte, com dignidade, com integridade. Que nesse dia se possa dizer adeus com um sentimento de paz."Em outra passagem, ele fala de um paciente, também médico e acometido por um linfoma, p. 210-212:
"Denis era inteiramente ateu(...) mas descobriu aquilo que chamaria mais tarde de alma. A forma como cada uma de suas escolhas, cada uma de suas ações ao longo da vida, tinham sido impressas para sempre no destino do mundo através de suas repercussões infinitas. Como a borboleta proverbial da teoria do caos, cujo batimento de asas influenciam os furacões da América, Denis tomava consciência da importância de cada pensamento, de cada uma de suas palavras. E ainda dos gestos de amor dirigidos aos outros ou à terra. Ele o via agora todos como a semente de uma colheita eterna. Tinha o sentimento, pela primeira vez, de viver cada instante. De abençoar o céu que lhe acariciava a pele, assim como a água que refrescava sua garganta. O mesmo sol que já tinha dado vida aos dinossauros. A mesma água que eles tinham bebido também. Que havia feito parte de suas células antes de se tornar outra vez nuvens, depois oceanos. "De onde vem essa gratidão, a mim que vou morrer?" E depois também o vento, o vento no seu rosto. "Dentro em breve eu serei o vento, a água e o sol. E principalmente a centelha nos olhos de um homem de quem eu cuidei da mãe ou curei o filho. Então, é isso a minha alma. O que eu fiz de mim, que já vive em toda parte e viverá sempre."
Nos últimos dias, quase nao falava mais. Morreu em um final de tarde. Um de seus amigos lhe massageava os pés. De manhã, sobre a minha mesa, eu achei uma nota do meu assistente: "Denis M.: CDR." Um eufemismo usual no hospital para "cessou de respirar". E eu me perguntei se ele não teria justamente começado."
sábado, 12 de setembro de 2009
Rubem Alves e a Gaiola de Prender Idéias
"Inspiraçao é quando a gente nao sabe de onde a idéia vem."
"O pensamento experimental não deseja persuadir, mas inspirar."
"Gaiola de prender idéias: um caderninho." ... ou um blog!
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
La Noche en Blanco 2009
Falta uma semana para a La Noche en Blanco, lembra? Quem não sabe ou não se lembra, pode também ver aqui como foi a "minha" no ano passado. Adorei! Tenho que começar a me programar, procurar uma "canguru" para ficar com meu filho, essas coisas que no Mundo de cá sempre custam, em todos os sentidos. Quem está em Madri e nunca foi, vale a pena conferir, será no dia 19 de setembro. Recomendo!
sábado, 5 de setembro de 2009
Brasil x Argentina
(Foto do ig.com.br)
É muito bom se classificar para a Copa do Mundo. É muito bom ganhar. Mas melhor, melhor, melhor mesmo é ganhar da Argentina. Brasil 3 x Argentina 1, no jogo de classificação para a Copa. Ah, e o melhor é quando estamos vendo o jogo com dois amigos argentinos em casa, gente finíssima, educadíssimos quando a Argentina fez o gol, apesar dos meus protestos de que ficassem à vontade. Já eu, gritando como louca nas oportunidades brasileiras. Só para esclarecer, aqui são 4h30 e vou dormir com o sabor da vitória. Perguntei a eles se precisavam de algo já que também vão dormir aqui em casa, e um deles me respondeu: - ¿tienes un poquito de alegría? - tentei me conter, mas me ocorreu dizer: - tenho de sobra. Fazer o qué?!
Mapa de los Sonidos de Tokio
No Cine Renoir, um dos poucos de Madri onde se pode ver filmes de excelente qualidade em idioma original, legendado (os filmes aqui são todos dublados para o espanhol, resquício do franquismo), assistimos a um filme lindíssimo, Mapa de los Sonidos de Tokio. Um drama sentimental da diretora catalã Isabel Coixet. Filmado em Tokio e em Barcelona, com personagens protagonizados pelo espanhol Sergi López e a japonesa Rinko Kikuchi, que dá um show de interpretação, o filme é arte pura, muito poético. A solidão das personagens, o choque entre as culturas oriental e ocidental, "os sons" da natureza, das pessoas comendo, tudo tem um apuro estético lindíssimo. A relação entre o "casal" protagonista é no mínimo... silenciosa e... fora dos padrões. Vale a pena conferir.
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
O Curió de Juanito – Parte III - A preocupação
Imagem do Mediterrâneo, em Altea
Sei que o curió de Juanito vai "abafar" (ver os dois posts abaixo), mas honestamente, me preocupo em receber BEM meus amigos espanhóis em PE. Amo aquele Estado e tenho todo um “sentido de pertencimento” já falado por mim aqui no post1 e posts 2 e 3 , que quero compartilhar. Eu, com minha veia de marketing, tendo a "vender" tudo que amo, e a imagem que fiz do Recife por aqui é que é assim meio que... pertinho do paraíso. Agora, tenho que impressionar.
Resolvi encarar essa empreitada como se fosse um job, ou seja, um trabalho encomendado à uma agência, onde a primeira coisa a fazer é estudar o perfil do meu cliente e suas necessidades. Vamos lá: a galera daqui, ao menos, a que eu conheço: é super natureba; desportista; bebe "álcoolicas" rotineiramente, porém, pouco; odeia praia cheia, e é meio crítica que se coma em praia por questões ecológicas – só me lembro dos nossos ambulantes aos montes na praia de Boa Viagem –; não curte muito ruído (muito menos de todo tipo de música que toca nos carrinhos ambulantes que vendem CDs e DVDs piratex); está acostumada a andar a pé, sem preocupação; não suporta ar condicionado, Shopping ou qualquer um desses ícones modernosos ou consumistas; suam com qualquer calorzinho; não topam "comida pesada" no verão, época em que viajarão pra Pernambuco; enfim, quando penso em tudo isso, repenso totalmente o roteiro. Devemos ir para: Fernando de Noronha, praia dos Carneiros, Coroa do Avião, Recife Antigo, Maracaípe (no máximo, pois, honestamente, não creio que eles curtam o caos de Porto de Galinhas), o Alto da Sé em Olinda. A minha única despreocupação é que eles são pessoas encantadoras, e sei que valorizarão cada atenção ou carinho demonstrado, coisa abundante na nossa terrinha (calor humano é o que não falta).
Bueno, com todas essas preocupações para que saiam com "A" melhor impressão do Mundo de lá, ouço minha queridíssima amiga espanhola me dizer que, dentre outras coisas, quer conhecer uma...
favela. Pronto, e agora?! “Me lasquei”. Essa galera tem que ir e voltar sã e salva; e não menos importante: “BEM impressionada”.
"- Juanito, vai treinando o curió."
sábado, 22 de agosto de 2009
O Curió de Juanito – Parte II – A motivação
Tudo isto me pareceu curioso (ver Parte I, abaixo), mas a curiosidade principal que motivou estes posts se deveu a um casal recifense, muito amigo nosso, que veio, com sua doce filha, nos visitar recentemente em Madri. E daí vem a história de Juanito...
Apresentamos o casal de recifenses, Cyntia e Joãozito (chamado aqui carinhosamente de Juanito pelas crianças locais, pois nao sabiam pronunciar seu apodo, apelido brasileiro), a um outro casal de espanhóis muitíssimo amigo nosso. Uma ótima notícia é que estes espanhóis deverão ir conosco para o Brasil, em dezembro.
Bueno, nos divertimos muito juntos por aqui, além dos meus amigos terem sido maravilhosamente recebidos. Estamos todos muito pendientes e ansiosos por recebê-los bem em Recife, e mostrar um pouco da beleza do nosso Estado. Sem falar que Juanito é um personagem a parte, engraçadíssimo e bromista, piadista.
E o Curió com isso?! Vale, vale, estou me prolongando. Vamos lá... estou chegando...
Fomos todos para a casa dos nossos amigos espanhóis que fica em Altea, cidade litorânea, à beira do Mediterrâneo, lindíssima (ver post de abril deste ano), e, enquanto visitávamos o casco antiguo de Altea que é a parte histórica, Juanito expressou o que todos pensamos, mas não havíamos assumido até então: como impressioná-los em Recife, com tudo por aqui tão lindo e bem cuidado?! O mar Mediterrâneo, aquelas casas na montanha, aquela paisagem, enfim... Ele então saiu com esta pérola: “- Eu acho que eu vou apresentar a eles o curió de painho".
Quando me lembro da espontaneidade e da maneira como a frase foi dita, revelando uma total frustração em como encantá-los no Mundo de lá, mesclada com a imagem do curió versus daquela paisagem, me faz ter crise de risos até hoje.
É claro que apesar de ter muita coisa linda em Recife, o caos urbano, o modernismo ou pós-modernismo caótico que marca o crescimento das grandes cidades brasileiras, “poluem” a nossa linda paisagem, sem falar que, se compararmos do ponto de vista de infra-estrutura e cuidado com a coisa púbica, realmente contrasta muito das cidades espanholas. Enfim, o curió talvez seja realmente a nossa salvação.
E finalmente, da motivação à preocupação...
Apresentamos o casal de recifenses, Cyntia e Joãozito (chamado aqui carinhosamente de Juanito pelas crianças locais, pois nao sabiam pronunciar seu apodo, apelido brasileiro), a um outro casal de espanhóis muitíssimo amigo nosso. Uma ótima notícia é que estes espanhóis deverão ir conosco para o Brasil, em dezembro.
Bueno, nos divertimos muito juntos por aqui, além dos meus amigos terem sido maravilhosamente recebidos. Estamos todos muito pendientes e ansiosos por recebê-los bem em Recife, e mostrar um pouco da beleza do nosso Estado. Sem falar que Juanito é um personagem a parte, engraçadíssimo e bromista, piadista.
E o Curió com isso?! Vale, vale, estou me prolongando. Vamos lá... estou chegando...
Fomos todos para a casa dos nossos amigos espanhóis que fica em Altea, cidade litorânea, à beira do Mediterrâneo, lindíssima (ver post de abril deste ano), e, enquanto visitávamos o casco antiguo de Altea que é a parte histórica, Juanito expressou o que todos pensamos, mas não havíamos assumido até então: como impressioná-los em Recife, com tudo por aqui tão lindo e bem cuidado?! O mar Mediterrâneo, aquelas casas na montanha, aquela paisagem, enfim... Ele então saiu com esta pérola: “- Eu acho que eu vou apresentar a eles o curió de painho".
Quando me lembro da espontaneidade e da maneira como a frase foi dita, revelando uma total frustração em como encantá-los no Mundo de lá, mesclada com a imagem do curió versus daquela paisagem, me faz ter crise de risos até hoje.
É claro que apesar de ter muita coisa linda em Recife, o caos urbano, o modernismo ou pós-modernismo caótico que marca o crescimento das grandes cidades brasileiras, “poluem” a nossa linda paisagem, sem falar que, se compararmos do ponto de vista de infra-estrutura e cuidado com a coisa púbica, realmente contrasta muito das cidades espanholas. Enfim, o curió talvez seja realmente a nossa salvação.
E finalmente, da motivação à preocupação...
A volta da estrangeira e "O Curió de Juanito – Parte I – A definição"
Voltei ao Blog, e cheia de curiosidades. De repente, me vejo especialmente interessada pelos pássaros. Mais especialmente interessada ainda por um tipo curioso: o pássaro curió. Descobri que tem até uma sociedade amiga dos curiós no Brasil, SAC, que cuida da preservação desses pássaros, promove torneios de canto, e, segundo eles, já existem mais de 128 cantos catalogados, etc., etc. Existem curiós mestres de cantos e tudo o mais. Segundo o site, em Florianópolis, é um pássaro muito popular e já faz parte do folclore do lugar, é um animal de companhia de muitos de ali, inclusive já havendo um registro de patente de um tipo de canto do curió chamado de Canto Estilo Florianópolis, formado por notas graves e agudas.
No site, diz que ele é originário da America do Sul e Central, e parece haver sido abundante na fauna brasileira. Gostava sobretudo de “viver perto da aldeia dos índios” e o site diz que o nome ´“curió” em tupi guarani significa “amigo do homem”´. Também o classifica como um “pássaro elegante”, combativo, que gosta de disputar pelo “território”, e é conhecido pela “enorme qualidade do seu canto”. Tem desaparecido gradativamente e hoje é um animal que precisa ser preservado.
Bueno, mas você deve estar se perguntando por quê "danado" eu resolvi agora falar sobre o curió... Quem é Juanito?! O Que ele tem a ver com a história?!
Aguarde. Mañana te lo diré... "Inté."
No site, diz que ele é originário da America do Sul e Central, e parece haver sido abundante na fauna brasileira. Gostava sobretudo de “viver perto da aldeia dos índios” e o site diz que o nome ´“curió” em tupi guarani significa “amigo do homem”´. Também o classifica como um “pássaro elegante”, combativo, que gosta de disputar pelo “território”, e é conhecido pela “enorme qualidade do seu canto”. Tem desaparecido gradativamente e hoje é um animal que precisa ser preservado.
Bueno, mas você deve estar se perguntando por quê "danado" eu resolvi agora falar sobre o curió... Quem é Juanito?! O Que ele tem a ver com a história?!
Aguarde. Mañana te lo diré... "Inté."
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
Escrever e as férias
Demorei a gostar de ler. E demorei mais ainda voltar a escrever. Quando criança, era metida à escritora. Dissertação escolar?! Era comigo mesma. As aulas de literatura?! Minhas preferidas. No vestibular, se é que isto quer dizer alguma coisa, “abafei” no tema.
Agora, tem sido a minha terapia. Passei, no entanto, um bom tempo "sem meter a mão na massa". Hoje, percebo tristemente que perdi um pouco o jeito. Gostava mais do que escrevia antes, seja pela minha menor capacidade crítica, seja por que... não sei... pode ser real. Embora, já há muito, percebo que isto não me levará longe, hoje, o principal tem sido “me livrar” do pensamento, escrevo e pronto!, me sinto bem – não sei por quanto tempo, todavía. Na verdade, muitas vezes, não sei o que dizer. Os recursos do youtube, que dão voz a artistas, escritores, músicos, são maravilhosos porque muitas vezes ouço uma música e penso: era o que eu queria dizer...! Por que não pensei nisso antes?! E aí... venho ao blog e publico.
Mas, voltando à história do início ... Refletindo bem, é curioso. Às vezes, a gente leva uma vida para aprender ou descobrir certas coisas. Visitando um museu de Madri com uns amigos, um deles me lembrou de uma frase de Picasso: “- Levei a vida inteira para aprender a pintar como criança.” Além de outra pérola dele: -"Eu não procuro, encontro."
Bueno, esse papo já tá qualquer coisa... mas, bem ou mal, às vezes penso: ´eu já fui uma versão melhor de mim mesma´. Crises existenciais... Afinal, nem só de sol de 40 grados se vive as férias madrileñas.
Agora, tem sido a minha terapia. Passei, no entanto, um bom tempo "sem meter a mão na massa". Hoje, percebo tristemente que perdi um pouco o jeito. Gostava mais do que escrevia antes, seja pela minha menor capacidade crítica, seja por que... não sei... pode ser real. Embora, já há muito, percebo que isto não me levará longe, hoje, o principal tem sido “me livrar” do pensamento, escrevo e pronto!, me sinto bem – não sei por quanto tempo, todavía. Na verdade, muitas vezes, não sei o que dizer. Os recursos do youtube, que dão voz a artistas, escritores, músicos, são maravilhosos porque muitas vezes ouço uma música e penso: era o que eu queria dizer...! Por que não pensei nisso antes?! E aí... venho ao blog e publico.
Mas, voltando à história do início ... Refletindo bem, é curioso. Às vezes, a gente leva uma vida para aprender ou descobrir certas coisas. Visitando um museu de Madri com uns amigos, um deles me lembrou de uma frase de Picasso: “- Levei a vida inteira para aprender a pintar como criança.” Além de outra pérola dele: -"Eu não procuro, encontro."
Bueno, esse papo já tá qualquer coisa... mas, bem ou mal, às vezes penso: ´eu já fui uma versão melhor de mim mesma´. Crises existenciais... Afinal, nem só de sol de 40 grados se vive as férias madrileñas.
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